domingo, 21 de julho de 2024

trem da memória


 À venda pelo site www.radiadora.com.br e com o autor.

Em Fortaleza: Livraria Leitura (Shopping Iguatemi) e Livraria Arte E Ciência (av. Treze de Maio, 2400).
Em Brasília: Livreiro da 214 Norte (SCLN 214 - Bloco C - loja 64) e Sebo do Ismar (216 Norte, Feira da Ponta Norte).

terça-feira, 9 de julho de 2024

o trem chega a Quixadá


 “Fortaleza seria logo ali

depois da bica do Ipu
passando o arco de Sobral
chegando nas bananeiras de Caucaia”

- Trecho do meu livro Trem da memória (Editora Radiadora, 2022)
Quando menino, eu viajava de trem de Cratéus para Fortaleza e pela janela media o tempo de chegada por essas três cidades dos versos.
Banhava meu olhar nas águas da cachoeira de Ipu, abençoava meu coração no Arco de Nossa Senhora de Fátima e pegava com o tato das retinas a fruta nos cachos que quase batiam no trem: estava perto de chegar e ver o mar.
Mas sempre viajei de ida e volta um pouco frustrado porque o comboio de madeira, fumaça e canção metálica café-com-pão-leite-não não passava por Quixadá, no sertão central distante do chão oeste de Crateús. Eu queria muito ver a Pedra da Galinha Choca, formação rochosa esculpida pelo tempo em formato da ave, ali pronta para bicar quem se aproximasse do seu ninho sobre os ovos de pedrinhas, assim eu imaginava.
Os versos sobre a cidade onde o trem não passava ficaram ocultos num vagão dentro de mim. Fui desembarcá-los muito tempo e estações depois quando passei a dar aula na Escola de Cinema do Sertão, projeto inovador da Secretaria de Cultura do município.
A Galinha estava lá, impávida na imensidão de seu quintal, monumental no seu silêncio secular de monólito. Ali, sólida e maternal cuidando e aquecendo os ovos postos para a continuidade de suas crias. Além, solene com sua crina e bico em riste para o céu, a inspirar um verso e o poeta seguir outra viagem.
Um exemplar do meu livro chegou hoje ao endereço de minha amiga Railane, uma de minhas alunas de roteiro na Escola. Chegou como se o trem pretérito desviasse os trilhos entre Ipu e Sobral e no afeto de sua leitura presente passasse por Quixadá.
Grato, Railane, pelo aceno na estação.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

a rua

Foto: Raphael Lucas


Da janela olhei debruçado
a história explodindo na rua Firmino Rosa:
o disparo no presidente em Dallas
os tanques de 64 vindo de Minas
dom Fragoso chegando da Paraíba
:
manchetes do mundo no beco da província
e o menino guardando tudo
para o poema no futuro do presente:
um take de Oliver Stone
um arquivo de Sílvio Tendler
um frame de De Sica.
- Trecho do meu livro Trem da memória (Editora Radiadora, 2022).
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À venda pelo site www.radiadora.com.br e com o autor.
Em Fortaleza: Livraria Leitura (Shopping Iguatemi) e Livraria Arte E Ciência (av. Treze de Maio, 2400).
Em Brasília: Livreiro da 214 Norte (SCLN 214 - Bloco C - loja 64) e
Sebo do Ismar (216 Norte, Feira da Ponta Norte). 

domingo, 21 de abril de 2024

migrante


 IV

no começo da terra vermelha e cidade
meu pai passou por aqui
enquanto juscelino passava em seu jeep.
adubou concreto
elevou colunas
estendeu asas:
o sonho avesso de pau a pique.
de vastidão por imensidão
de cerrado por sertão
entorpecido de poeira e saudade
um dia subiu no pau de arara que voltava
sob o olhar franzido de juscelino.
preferiu
o abraço de minha mãe
o leite ralo das cabras
e a esperança de sol a pino.
- Poema do meu livro em preparação A paisagem e a distância - escritos sobre Brasília.
A cidade hoje faz 64 anos. Cada operário em construção, tijolo com tijolo num desenho lógico, também faz aniversário.
Foto: "Candangos", 1957, de Mário Fontenelle.

quinta-feira, 28 de março de 2024

desembarque


O trem chegou à estação João Felipe
e continua nos trilhos de minha vida.
Na capital
as bancas com suas notícias
a Cruzeiro com a miss na capa
os cowboys destemidos da EBAL.
Puxo os vagões da memória até quando?
O poema não acaba nunca.
O que escrevo são incompletudes:
há sempre quem lembro
e volto a sua casa
peço água e pergunto se sabe de mim
- o neto da costureira, o filho do bodegueiro
há sempre quem deslembro
e bate a minha porta
nada pede e pergunta se conheço quem foi
- o pai de Lourim, o avô de Fransquim.
Vocês não sabem
o peso e a pluma que são?
o chão e o pássaro que vão?
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Trecho do meu livro Trem da memória (Editora Radiadora, 2022).
À venda pelo site www.radiadora.com.br e com o autor.
Em Fortaleza: Livraria Leitura (Shopping Iguatemi) e Livraria Arte & Ciência (av. Treze de Maio, 2400).

sexta-feira, 22 de março de 2024

a próxima estação



Fortaleza seria logo ali
depois da bica do Ipu
passando o arco de Sobral
chegando nas bananeiras de Caucaia
Fortaleza seria logo além
da saudade do quintal de Ibiapaba
da lembrança da cancela na fazenda
da memória da casa amarela de oitão
Fortaleza seria logo aquém
do meu pai que esperava
de minha mãe que guardava
do irmão que me olhava.
A cidade grande fez o menino ficar espichado.
Foi lá onde as vogais do interior
encontraram as consoantes das ruas.
Foi lá que o minúsculo das cartilhas
juntou-se aos maiúsculos das pessoas.
Foi lá em Fortaleza,
onde meu sertão virou mar.
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Trechos do meu livro “Trem da memória” (Editora Radiadora, 2022)
À venda pelo site www.radiadora.com.br e com o autor.
Em Fortaleza: Livraria Leitura (Shopping Iguatemi) e Livraria Arte & Ciência (av. Treze de Maio, 2400). 

segunda-feira, 11 de março de 2024

dois poetas e o rio de Heráclito



Caro amigo Clauder Arcanjo.
Emocionante sua resenha sobre o Trem da memória e a escrita de Nirton Venâncio, esse nosso amigo gentleman (como você) e poeta (como você).
Interessante como você abocanha desse livro os versos mais indicativos da biografia do poeta. São belezas que só outro poeta pode avistar.
Engenhoso o confronto que faz de sua própria biografia (de você) com a dele: são duas crianças; dois sertões; dois rios; dois retirantes; dois exilados que, através da utopia poética, tentam se banhar cada qual em seu rio mais uma vez, no mesmo rio impossível de Heráclito: o passado é esse rio que não se atravessa mais.
Parabéns por sua sensibilidade poética e por saber transformar tudo isso em escrita da melhor qualidade.
Forte abraço!
Valdi Ferreira Lima, poeta
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Clauder Arcanjo, escritor, membro da Academia de Letras do Brasil. Autor de Licânia, Novenário de espinhos, Uma garça no asfalto, Cambono, O Fantasma de Licânia.
Valdi Ferreira Lima, poeta, autor de O guardador de raízes, Poemas para assobiar de longe, Apontamentos sobre o cultivo da poesia, O terceiro anonimado, Outono do quase novo.
Eles são meus dois poetas-rios de predileção onde mergulho sempre para aprender a nadar na poesia.
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Trem da memória, Editora Radiadora, 2022
À venda pelo site www.radiadora.com.br e com o autor.