terça-feira, 30 de outubro de 2012

de mãos dadas com Drummond

No meio do meu caminho tinha O poeta: Carlos Drummond de Andrade.

O primeiro poema que li ainda me alfabetizando foi "Mãos dadas". Aqueles versos serviram-me como guia, "o presente é tão grande, não nos afastemos...", como uma cartilha pa
ra aquele menino despertado pela poesia, "o tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, a vida presente." Desde então, vim de mãos dadas com Drummond. Nenhum outro poeta me influenciou tanto nas minhas inquietações quanto ao sentimento do mundo: Pessoa, Bandeira, Cecília, Régio, Quintana, Gullar,
Manoel de Barros, Cabral, Faustino Whitman, Eliot, Rimbaud, todos eles entenderam minhas idas a Itabira.


Quando publiquei o meu primeiro livro, "Roteiro dos pássaros", em 1981, todos os capítulos foram abertos com epígrafes de versos de Drummond. Não tinha outro jeito, foi muito natural, e definia bem a minha poesia aprendiz. Meu amigo poeta Márcio Catunda tinha o contato de Drummond no Rio de Janeiro, aliás, tinha até foto com ele, o que me deixava cheio do quinto pecado... E eu lá me importava com isso! Mandei o livro para o meu mestre. Dias depois tive uma das maiores alegrias da minha vida: uma carta de Drummond! Um envelope com meu nome, meu endereço subscrito, um cartão personalizado com sua letra miúda agradecendo-me o exemplar, a honra dos epígrafes, e o elogio reescrevendo um verso meu. A gesto de Drummond foi o melhor poema que não escrevi.

Amanhã ele faria 110 anos. Algumas comemorações se espalham por aí. No Rio haverá um recital em frente a estátua no calçadão em Copacabana. Aqui em Brasília, na livraria Sebinho, 406 Norte, poetas referenciarão o poeta maior. Estarei lá, Drummond, sempre grato por suas mãos dadas, "nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas."

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

dados pessoais


O que me dói é a saudade do menino
e o desencontro com o homem...

...


Sou o encontro de duas vogais

                          entre o menino que se foi
                      e aquele senhor que se aproxima.


(Versos do meu poema "Dados pessoais", do livro "Roteiro dos pássaros", 1980. Para a criança que fomos, que temos em casa, e que sempre seremos)