quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

leitor Afonso Celso Machado


 Poesia provisória, Editora Radiadora, 2019


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

todas as metades

Meu primeiro poema musicado foi Ventania, do livro Roteiro dos pássaros, Editora Lourenço Filho, 1981, por Ricardo Augusto.

Não sou um letrista para canções. Sou apenas um poeta aprendiz e escrevo poemas para “dar coerência aos sonhos”, como disse Pirandello. A poesia tem sua musicalidade. Mas quando um poema, já com seu corpo definido, ganha uma melodia, ele se engrandece, ganha uma alma, uma outra dimensão. O poema se duplica. E se triplica na audição do outro.
A melodia está lá, na extensão de cada verso, no fôlego de cada palavra, na rima de uma emoção. O poeta não se dá conta. A escrita é uma canção embutida. Vem o músico e encontra as notas, porque só a ele cabe o sol que ilumina dó-ré-mi-fá-lá-si.

Depois de Ricardo Augusto, outros compositores cearenses desenharam música em alguns poemas, Bernardo Neto,
Calé Alencar
,
Parahyba de Medeiros
,
Alan Morais
,
Zé Rodrigues
,
Charles Wellington
,
Gildomar Marinho
,
Evaristo Filho Freitas
,
Eugênio Leandro
, o carioca Berto Mendes e o goiano-brasiliense
Rubi
. É sempre uma saudável perplexidade o encontro com a outra margem do rio.
Recentemente Alan Morais e Zé Rodrigues postaram no Spotify os EPs com as parcerias, respectivamente, Lunar e Metade, publicados no meu livro Poesia provisória,
Editora Radiadora
, 2019. No mesmo serviço de streaming está Ventania, gravada por
Mona Gadelha
no disco Cidade blues rock nas ruas, Brazilbizz, 2013, e também no DVD do show apresentado na Caixa Cultural de Fortaleza, 2014.
Abaixo, os links de cada uma. Grato a todos os parceiros pelas metades que somamos.

domingo, 10 de janeiro de 2021

rua


De tudo era azul

o que de passado guardo avante nos cadernos
na arquitetura das primeiras letras
caligrafia que anunciava um poema
e no silêncio do menino curioso
personagem que descrevia uma cena
às vezes de riso pequeno
devagar sempre divagando
com os brinquedos traçados pela mão do pai
ah, meu pai!
o pêndulo de minhas pernas
em sua cacunda
caminhando do casarão
à casa pequena sem rotunda
o menino ainda sem irmãos.
O meu sono depois do galope na calçada
- do colo da avó
via de perto
a lua tão minha
são jorge correndo
entre as nuvens.
O dono, pai, depois do golpe no planalto
- no solo da voz
vi de longe
a rua tão sua
entre as chamas
do dragão verde.
Bem me lembro tão lágrima.
Da janela da casa
olhei debruçado
a história explodindo na rua firmino rosa:
os disparos no presidente em dallas
os tanques de 64 vindo de minas
dom fragoso chegando da paraíba
:
manchetes do mundo no beco da província
e o menino guardando tudo
para o poema no futuro do presente:
- um take de oliver stone
- um arquivo de sílvio tendler
- um frame de de sica.
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Fragmento do meu livro-poema ©Trem da memória, com lançamento adiado desde março do ano passado. Aguardando quando for possível a aglomeração de afetos.
Editora Radiadora
Coordenação editorial:
Alan Mendonça
Prefácio:
Valdi Ferreira Lima
foto ilustrativa para esta postagem: Raphael Lucas