sexta-feira, 26 de setembro de 2025

eu viajei de trem


 "Nirton, finalmente estou conseguindo tempo pra me dedicar a seu livro.

Que bonita essa edição. E que belo e emocionante poema, meu amigo. Todo o conjunto (projeto gráfico, capa e a escrita falam a mesma língua, andam na mesma direção) me leva a viagem que é a sua, por óbvio, mas que também é daquela criança que ainda nos habita e entre nuances e um verso ou outro nos acena. De longe, porém dentro da gente. Enquanto a vida acontece quadro a quadro, da janela, enquanto o trem vai seu caminho. Estou emocionado, amigo! E a viagem ainda não terminou!
Não é à toa que desde a faculdade sou seu fã!"
- Paulo Fraga-Queiroz, poeta e publicitário (Fortaleza-CE)
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Trem da memória, Editora Radiadora, 2022

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

o bruxo e a paisagem


Ilustração: Daniel Kondo

Numa das primeiras vezes que Hermeto Pascoal fez show em Brasília, ficou encantado com a cidade. Não exatamente com a arquitetura diferente, mas com o verde por todos os lados.

Quando o carro, vindo do aeroporto em direção ao hotel, entrou no Eixão Sul, uma das largas avenidas de seis faixas que formam o desenho da asa do avião, o músico esverdeou seu olhar albino.
Durante o percurso, entre silêncios e murmúrios melódicos improvisados, elogiava a paisagem na rodagem horizontal da janela.
Em um momento, disse, mais para si do que para quem estava ao seu lado: “Só faltam uns cabritinhos pastando nessa grama”.
Esse episódio sempre me comoveu. No livro de poemas que estou finalizando, A distância e a paisagem – Escritos sobre Brasília, menciono em um trecho:

“e os bodes pastando no verde do Eixão
que o bruxo Hermeto chegando imaginou”.

Ele partiu ontem aos 89 anos.
Ficam na história da música brasileira, em nossa memória afetiva e no molde da saudade, seus hermetismos pascoais que nos salvam e sempre nos salvarão dessas trevas, como bem definiu Caetano. 

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Silvio Tendler

Fotos: Eduardo Knapp e Raphael Lucas


“Ficarei muito feliz em me ler na tua poesia”
O cineasta Silvio Tendler me enviou essa mensagem em 2022, quando lhe disse que é citado em um trecho do meu livro Trem da memória (Editora Radiadora).
Meu caro amigo partiu hoje, aos 75 anos.
Uma manchete pulsando na província do meu coração.
Uma notícia que se derrama no presente de saudade.
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Da janela da casa
olhei debruçado
a história explodindo na rua Firmino Rosa:
os disparos no presidente em Dallas
os tanques de 64 vindo de Minas
dom Fragoso chegando da Paraíba
:
manchetes do mundo no beco da província
e o menino guardando tudo
para o poema no futuro do presente:
- um take de Oliver Stone
- um arquivo de Silvio Tendler
- um frame de De Sica.