Ricardo Augusto musicou belamente meu poema "Ventania", Lúcio Ricardo gravou belamente com sua voz. A felicidade é isso, também. É ver, ouvir um texto que se escreveu sem necessariamente com o propósito de musicá-lo, e depois, ouvir esse texto em melodia, devidamente colocado em suas pontuações e sentimentos expressos. Eu não sou um letrista para canções. Sou apenas um poeta e escrevo poema como quem parte. A poesia tem sua musicalidade. E quando um poema já com seu corpo definido ganha uma melodia ele se engrandece como quem ganha uma alma, uma outra essência, ele ganha outra beleza de leitura, ele se duplica. E se triplica na audição de terceiros, para quem no fundo um trabalho é direcionado: para todos. Depois que Ricardo Augusto musicou esse poema, publicado no meu primeiro livro, "Roteiro dos pássaros", de 1981, leio como se ele tivesse renascido sem nunca ter findo. O artista é finito, a arte atravessa o mar, amplia-se no tempo. A arte é maior. A voz de Lúcio Ricardo sobre meu poema dá a ele uma autoria, porque no momento que ele interpreta reescreve o poema que Ricardo Augusto musicou, que pari num momento da minha vida tentando entender o que os meus olhos miravam. "Ventania" agora não é mais meu, é também dos dois Ricardos.
Um comentário:
Maravilha, Nirton!
Deve ser uma emoção grande mesmo.
Gostaria de duas coisas na poesia: ter algum poema musicado, e ter poemas traduzidos para outras línguas.
Beijo.
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