sábado, 13 de agosto de 2005

armadura

foto Mário Cravo Neto
Meu corpo é a única coisa que tenho
que é nada
e como suicida
luto contra moinhos, tempestades e solidão
que é tudo.

Escondo-me nesta armadura de ossos, carne
e vestimentas
e espio a vastidão do mundo pelos buracos dos olhos
como quem espia lugares estranhos
infinitos
perigosos.

Meu corpo é a única coisa que tenho
para carregar o pretexto da alma.
É magro, feio e escandaloso
o corpo
mas é única coisa que tenho
para caminhar pelo tempo e pelos sertões.

Garantia não tenho
se o meu corpo é forte e frágil ao mesmo instante
se sujeito-me ao abismo
ao chão
à poeira
se estou marcado para me tornar saudade
lembrança
e fotografias
e minha história não terá mais
um cavalo para montar
e serei uma estátua invisível no espaço.


Garantia não tenho de nada
nada
não levarei escondido no bolso
nenhuma semente
nenhum suspiro
nenhum gesto
pois tudo é podre
condenável
consumível.
Só é garantido o mais difícil:
a miragem na imensidão
o que se supõe ao longe
o completo mistério
para se chegar até lá
não se sabe com que corpo
não se sabe com que asas
não se sabe.

(do livro "Poesia provisória")

3 comentários:

Anônimo disse...

nirton, bom dia! parabéns pela sublimação pela palavra pelo corpo pelo desejo expresso. nos sinais dos tempos, o que fica é que vai. pelo corpo caminha a obra do poeta que tudo leva. pela palavra caminha aquele que tudo pode. por pelo e pela obra, o seu caminho está aberto, pois palavras escritas numa imaginação fértil é o caminho do poeta... sucesso... um abração do josealoisebahiabhzmg...

Anônimo disse...

o que se supõe ao longe
o completo mistério..

Linda poesia Nirton
Estou aqui bem longe com uma enorme desejo de vestir essa armadura( estranho desejo rsrs..)

Abraços
Dioneide

http://raizeseasas.blogspot.com

Anônimo disse...

Seu Nirton, e vc é um poeta inspirado além de fino blogueiro. Provou que um é pouco. Grande abraço.