quarta-feira, 4 de maio de 2011

dúvida

foto Misha Gondim 

O homem é um bicho-homem
que não sabe se é um rato,

fosse o homem mesmo um rato
talvez não tivesse esse nome

posto que pode ser lobisomem
o homem não sabe o que é de fato.

Homem e rato – ambos têm fome
e comem tudo que está no mato,

quando comem, comem e somem
deixando sem fundo o chão e o prato;

mesmo não sendo um rato
o homem corre com medo da fome

como o rato corre do gato
que come o rato com medo da fome.

O homem (quem sabe...) é um passarinho
sem asas, sem bico e sem verão

que vive a vida atrás do ninho
angustiado no que chama solidão,

corre o mundo, sem parente, sem vizinho
montado no seu corpo feito alazão

carente de abraço, pão e vinho
perdido no céu, no mar e no sertão

sem saber se no incerto caminho
voa como pássaro ou avião.

(do livro “Roteiro dos pássaros – remixado”)

3 comentários:

Claudio Eugenio Luz disse...

Ah, meu caro Nirton, excelente!Que belo jogo entre o homem e o rato e entre o pássaro e o avião. Civilização e animalidade, história, calmaria, raízes e modernidade. Nunca li um poema tão denso e que traduzisse tão bem a dicotomia que vai aos poucos se tornando insuportável.

...

hábraços
.
claudio

Jocimar disse...

poeta é mais quem lê do que quem sente e escreve. Se eu lesse um livro de química (e nada entendo de) não daria valor à obra. Portanto...como poeta adorei seus poemas...é uma ventania derrubando o varal e levando para o espaço as peças dos pensamentos e sentidos...adorei. Parabéns

joão alberto lupin disse...

beleza de poema!!!!!