quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

asas

foto Bogdar Jarocki

Tirem-me a roupa
o chapéu contra o sol
tirem-me até os braços
as pernas
tampem-me os olhos
mas não tirem as asas
que criei pra mim


tirem-me o domingo
a manhã contra a noite
tirem-me até os feriados
os dias santos
rasguem os calendários
mas não tirem o tempo
que criei pra mim

tirem-me os lábios
o beijo contra o gelo
tirem-me até a voz
o delírio
adormeçam o sexo
mas não tirem o coração
que criei pra mim


(do livro “Poesia provisória”)

3 comentários:

Adrianna Coelho disse...


essa criação em si mesma torna possível que todas as coisas que nos sejam tiradas não tenham importância alguma diante do que somos...

e no que não se cria, somente se crê, não é? :)

beijos

Mariana Botelho disse...

bonito poema e pertinente fala da Pav...

Nirton Venancio disse...

Pav, é isso mesmo: o que somos é o que nos somamos.

Mariana, seu olhar também é pertinente.

Bom estar com vocês.