quarta-feira, 2 de maio de 2007

o morto

Repouso, nanquim sobre papel, de Gil Vicente


I
O morto
tomou destino ignorado:

em que planície nos céus
sibila o seu silêncio?

Com sua armadura desfeita
o que resta é inútil:
não suporta o vento
(que sopra com a chuva)
não será restaurado nos museus
(que espiam a história)
nem se moverá com as lembranças
(que amontoam os retratos).

O morto
tomou destino ignorado.

II
Não tenham medo:
o morto não se levantará
de sua solene posição

deitado como nunca
com seu nariz e seu sapato
em
riste.


III
O morto
(saibam)
não segue no cortejo:
segue um morto
(peso inútil)
que o limite do nosso olho vê.

IV
O morto independe da vontade
dos que lhe jogam areia e flores
dos que lhe dizem orações e calam
dos que choram e esquecem
- o morto
agora
é eterno.

V
Lembramos o tamanho do morto
com suas roupas
com sua voz
com sua dor
e choramos o tamanho que falta
a lágrima que salta
em nós
até quando aprendermos
a não ser somente vivos.

(do livro “Poesia provisória”)

5 comentários:

Sayô disse...

Quando aprendermos a amar o espirito que vive na matéria não choraremos mais a ausencia da matéria , mas vamos nos alegrar em saber que o espirito é eterno.
beijos dio

Anônimo disse...

De onde tira estas fotos lindas heim?

Ei, queremos mais poemas para Autêntica!! espero...

Anônimo disse...

Acabei de encontrar seu rastro no Artes. O morto aos mortos. Li uma frase ali embaixo que adorei: "tenho versos para todos os degostos".
Beijo em vc, Nirton.

Anônimo disse...

Pode linkar sim, Nirton. Um fim de semana super pr'ocê! ;)

Rayanne disse...

Choramos o puro egoísmo
Que falta de alguém faz em nós
Um choro absorto
O choro por quem chora um morto.

**Estrelas**