sábado, 1 de outubro de 2005

janeiros

foto Maurício Rolo


A cidade.
O que é esta cidade, nova,
senão o meu berço desfeito em outras paredes?
o que é esta distância
(medida a olho e lágrima)
senão o tamanho que me separa do riso
e da dúvida?

Fazer desta casa
:os mesmos tijolos de antes

os parentes seguiram no tempo
envelheceram
e desfolharam os janeiros no quintal
a casa encolheu suas paredes
feito as rugas na pele dos avós

as paredes envelheceram no tempo
seguiram
e encolheram os janeiros no quintal
a casa desfolhou seus parentes
feito as rugas na pele dos avós

fazer desta casa
:os mesmos tijolos de ontem.
(do livro "Trem da memória")

5 comentários:

Claudio Eugenio Luz disse...

Há conto que escrevi onde a situação é inversa:"E por não se lembrar de afagos ou outras alegrias, se quiser, pode agora entrar, beber, berrar e brigar. A casa está vazia e não há ninguém para acolher nem para dizer adeus."
Esse é o trecho final. Em sua poesia há a memória, cheiro da infância e de sentimentos que nos acompanham pelo resto da nossa existência. Quando é que, afinal, vou ler a obra toda?

Hábraços

Anônimo disse...

Eugênio,
realmente há cheiro de infância nesse poema, aliás, no livro todo "Trem da memória": a casa onde nasci, vivi, as pessoas que me rodeavam, as coisas que eu via... até chegar ao espanto da cidade grande!
"Trem da memória" tá esgotado. É um longo poema e junto com mais dois de outros (dois) poetas, fizemos uma só publicação intitulada "Cumplicidade poética". Como esse poema se estendeu fora do meu controle emotivo, tô preparando uma edição-solo. Você será um dos primeiros a recebê-lo.

Anônimo disse...

Lindo poema. Adorei!!
Obrigado por visitar o meu blog.

Anônimo disse...

A casa que ficou na infância, a casa de hoje. Os avós que morreram, as
paredes que perderam a cor. Tudo é poesia.

Anônimo disse...

Que poesia linda, adorei!Beijinho.