sexta-feira, 7 de abril de 2006

asas

foto Bruce Taj

Tirem-me a roupa
o chapéu contra o sol
tirem-me até os braços
as pernas
tampem-me os olhos
mas não tirem as asas
que criei pra mim

tirem-me o domingo
a manhã contra a noite
tirem-me até os feriados
os dias santos
rasguem os calendários
mas não tirem o tempo
que criei pra mim

tirem-me os lábios
o beijo contra o gelo
tirem-me até a voz
o delírio
adormeçam o sexo
mas não tirem o coração
que criei pra mim

(do livro “Poesia provisória")

4 comentários:

Claudio Eugenio Luz disse...

Eu sempre fico pensando como se dá o processo criativo. Nesse poema, meu caro Nirton, há uma construção em três patamares - penso eu; todas elas sustentando um mesmo sentimento.

hábraços

claudio

Nirton Venancio disse...

Merleau-Ponty, o filósofo, dizia que a palavra serve mais para esconder que para revelar. Na poesia isso se aplica perfeitamente. Parece que ao esconder, nos libertamos, ou procuramos entender o que se passa dentro de nós.
E hoje li o poeta gaúcho Paulo Scott que diz que poesia ajuda a diminuir a solidão a que estamos condenados todos nós, e que poesia tanto agrava quanto cura.

Pablo Araujo disse...

fazendo uma visita, nirton.

li seu comentário acima. a poesia esconde e revela ao mesmo tempo.


abraço

Anônimo disse...

Dentro do meu tempo usufruo minhas asas pra imaginação levando junto um grande aliado: meu coração!


Olá Nirton, conheci Manoel de Barros através de Shara minha irmã.Conheci esse ano.Shara foi chamada pra falar sobre o mesmo no PALCO GIRATORIO ( PROJETO DO SESC ).E um dia,juntando um material pra fazermos um SARAU (na casa dela),ela me apresentou tal poeta.Foi paixão a primeira vista,rs.Então,posteriormente,ela deu a ideia de postarmos sobre ele no nosso blog.Ela contém muito material,mas como moramos em casas diferentes,quase não tenho acesso.Te agradeco muito se puderes mandar esse material pra mim.Adoro fazer posts com Manoel.
meu email eh sayonarahol@hotmail.com
Grande abraço.
Sayô