sábado, 25 de fevereiro de 2006

risco

"Concetto spaziale, attesa", 1963, óleo sobre tela de Lucio Fontana

O que vale
é usar a pa
lavra
e ar riscá-la

o que vale é o risco
junto com a palavra:
a palavra
é mágica
o risco
é surpresa!

o que vale
é saber o que vai dar
o movimento das mãos
(seja o que for:
- casa
- poema
- coração)

se não se joga a
palavra
no ar
nada mais sobra do (teu) corpo
sobre a estrada
pois o que vale é o risco:
risques a estrada

a palavra
é a intenção
que se destinou para
(e não pára) o gesto.




(do livro “Poesia provisória”)

sábado, 18 de fevereiro de 2006

cofre

foto Steve Casimiro

Quando quiseres
venhas
e gires com as pontas dos dedos
o meu coração.

Encontrarás
teus segredos nos meus olhos abertos.

Guardo no peito
o íntimo
de quem se achega.

(do livro “Poesia provisória”)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

foto Virgil Brill

Teu corpo de lã que caminha pela casa
é presença leve como se de tua alma
fossem as asas.

Teu corpo de lânguido caminhar pela sala
é silêncio de neve como se de teus olhos
fosse a fala.

Eu te vejo caminhar tão lentamente
entre as paredes e os meus olhares
que és toda preguiça profundamente
como um pássaro cansado pelos ares.



(do livro “Poesia provisória")

domingo, 12 de fevereiro de 2006

infortúnio

foto Chip Hooper

No escuro
meu coração é um deserto.
No claro nada é tão perto.

Ufa, até a rima é infeliz.

(do livro “Raios”)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

galope

foto Juan Guillermo Escobar

O corpo do homem
é um cavalo
onde a alma põe a sela
e dispara no mundo.

E jogado no mundo
não há como se escapar:
todo passo é decisivo,
todo caminho dá para o norte,
todo corpo é um gibão sobre a alma,
toda vida é o lado externo da morte.

(do livro "Roteiro dos pássaros - remixado")