sexta-feira, 28 de outubro de 2022

poetas afins

 

Em maio de 2020, no começo da pandemia, quando passamos a viver necessariamente isolados, a poeta Noélia Ribeiro, pernambucana radicada em Brasília, criou a live A Fim de Poesia em sua página no Instagram.
Assim como muitas outras iniciativas de sobrevivência de corações e mentes, e, cada um em sua casa, ficarmos juntos na esperança de que dias melhores viriam, o programa reuniu, ao longo desses quase três anos, dezenas de poetas na afinidade com a mais íntima das manifestações literárias: a poesia. São autores de todo o país, muitos deles não tão conhecidos, mas que têm trabalhos grandiosos que precisam chegar às pessoas. Esse é um dos méritos das redes sociais, essa é a grande importância dessa live, que se caracteriza por apresentar a poesia dos brasis.
Em 1º de novembro – com este Brasilzão avermelhado de alegria - lerei poemas dos meus livros Poesia provisória (2019) e Trem da memória (2022), publicados pela Editora Radiadora, na luxuosa companhia de Rita Pinheiro (BA), Valmir Jordão (PE) e a regência afetuosa de Noélia, que lerá páginas do recém lançado Assim não vale (Arribaçã Editora, 2022).

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

o olhar de Zélia


"Conheci Nirton Venancio há poucos anos, na Livraria Lamarca, em Fortaleza. Foi um encontro acertado pelo editor Silas Falcão, conterrâneo do Nirton e nosso amigo em comum. Percebi estar diante de um sujeito muito afetuoso e muito decente. E foi a partir daí que conheci seu trabalho, como cineasta e como poeta.

Nirton Venancio é um poeta cuidadoso, criterioso, exigente com o que escreve. Por isso surpreende e emociona o leitor com a beleza e a originalidade de cada poema. Penso que Nirton enquanto escreve assume um compromisso consigo mesmo, com o leitor, com a própria poesia. Por isso acho estranho ele ter intitulado de 'Poesia provisória' um livro que, na opinião de muitos bons leitores, é irretocável.
Resultado semelhante ocorre no seu mais recente livro, 'Trem da memória'. Passei meses esperando esse trem, que enfim chegou, carregado de belíssimas memórias, que são do poeta, mas também são minhas e de quem lê esse livro-poema. Porque o leitor vai encontrar ali um pouco de si, da sua história, independentemente de onde ele esteja ou da geração em que se insira, porque a poesia de Nirton Venancio não se limita a essas convenções."
Zélia Sales, contista, no programa Pedagogia da Gestão, na TCM - TV Cabo Mossoró, apresentado pelo escritor Clauder Arcanjo, 15/10/2022
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Poesia provisória, 2019
capa: Fausto Nilo
prefácio: Carlos Emílio Correia Lima
Trem da memória, 2022
capa: Joseph M. W. Turner
prefácio: Valdi Ferreira Lima
posfácio: Mailson Furtado
Publicados pela Editora Radiadora
Coordenação editorial: Alan Mendonça
À venda pelo site www.radiadora.com.br e com o autor.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

o que me deu asas

 


Não foi o deus do alto da matriz
quem deu asas a minha imaginação
nem foi o padre bomfim
(com sua mão branca de pelos escuros
que me obrigavam a beijar
quando ele apontava no começo da rua)
muito menos o padre irismar
(com seu rosto largo de pele vermelha
que me abrigava o olhar
quando desapontava no fim da rua)
não foram eles
a quem nunca deixei meus pecados
atravessarem as treliças do confessionário.
Pecados: pecados: pecados:
os seios
das tias de perto
que o menino via
refletidos no espelho do provador
as coxas
das cutruvias de longe
que o menino ouvia
espelhadas no reflexo dos homens
e mentia que a culpa-minha-máxima-culpa
era ter fabulado para a avó
e isso não se faz
seja a última vez
e tomem intermináveis
três pais-nossos deles
três ave-marias minhas
:
ato de contrição cabisbaixo
genuflexo
postulado
em frente aos gessos santificados
e seus olhinhos punitivos.
Não, não foram eles
seres comuns de batinas pretas
atravessadores de minha fé
não foram
foram as mãos dadas com drummond
as folhas finas da seleções
as curiosidades do capivarol
foram as fitas do cine poty
as canções da radiadora
a hora do brasil nas válvulas do abc
foram as notícias do tio da capital
as conversas na calçada alta
os trancosos da prima gorda
foi o olhar sem fim de tanto imaginar
que me deu asas sobre os telhados
os algodões
as carnaúbas
e me fez ver o mar.
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Trecho do meu livro Trem da memória (Editora Radiadora, 2022) que será lido hoje no programa Sarau Brasil Atual, na Rádio Brasil Atual, São Paulo.
Apresentado pelo escritor e músico Sérgio Lima, produzido por Denise Sousa, estarei luxuosamente acompanhados da cantora e compositora paulista Regina Machado e do parceiro cantor e compositor pernambucano-cearense Charles Wellington.
Serão lidos também poemas do livro Poesia provisória, lançado em 2019 pela mesma editora.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

hora de poesia


 No programa Poesia da Hora, apresentado por José Sóter, entrevistado por Vanderlei Costa.

TV Comunitária de Brasília DF
Link do programa na íntegra: https://fb.watch/fZpReC-I4V/

o eu da memória

 


Nirton Venancio tem toda uma coisa muito gráfica em sua poesia. Ele usa muito espaço em branco. Ele me lembra muito Ferreira Gullar, os irmãos Campos, toda essa questão da poesia moderna. Ele vai quebrando a gramática. Ele deixa a gente entrar no poema porque tem uma respiração, porque tem um silêncio. E esse movimento e a captura dessas emoções são construídas a partir de imagens. Eu consigo ver o que ele descreve. E ao mesmo tempo conversa, é algo que está aberto.
Essas memórias são memórias revisitadas, porque são as memórias de cada um. É o que poeta Rimbaud falou, 'Je est un autre', o eu é outra pessoa, é o eu poético, é o eu lírico, é o eu da enunciação. E é aí que se dá a magia da poesia, a magia da literatura, quando a gente sem ter vivido as mesmas coisas que a pessoa, a construção poética permite que se entre no poema.
- Ana Rossi, poeta, cronista, tradutora, professora do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, em seu programa Histórias Com Poemas, no Instagram.

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Trem da memória
Editora Radiadora, 2022
O livro foi lançado em 30 de julho em Fortaleza, na sede da Editora, Espaço Cultural da Kraft Atelier Coletivo, e em 14 de setembro no Beira Cultural do Bar Beirute, em Brasília.
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado
Revisão: Galileu Viana
Disponível para a venda no site da editora e com o autor