(Os poemas aqui publicados estão registrados na Biblioteca Nacional. Podem ser reproduzidos desde que mencionados a fonte e o autor)
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
a casa
foto ©Acervo Nirton Venancio
A cidade ontem era outra
foi crateús
quando volto crescido
(no expresso rápido do zé arteiro)
e procuro a asa que fui
na casa que foi:
fazer dessa casa
:os mesmos tijolos de antes
os parentes seguiram no tempo
envelheceram
e desfolharam os janeiros no quintal
a casa encolheu suas paredes
feito as rugas na pele dos avós
das tias
das costureiras
das marias
das letícias
das gicélias
:
únicas em minha infância
múltiplas em minha saudade
as paredes envelheceram no tempo
seguiram
e encolheram os janeiros no quintal
a casa desfolhou seus parentes
feito a pele nas rugas das bisavós
e outros vós
e tantos nós
tiázinha
zebinha
joão
: o corpo frágil da bisa no fundo da rede
: a mão ágil do tio no fundo da oficina
: o rosto gil do primo no fundo do espelho
fazer dessa casa
:os mesmos tijolos de ontem.
A casa
sempre foi poema.
Cada dia,
um verso
cada filho,
poeta.
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Trecho do meu próximo livro © Trem da memória - um poema, lançamento previsto para quando o carnaval passar.
Textos de apresentação:
Mailson Furtado
Valdi Ferreira Lima
mais do que prefácios, duas viagens no trem, um em cada janela.
Mailson Furtado
Valdi Ferreira Lima
mais do que prefácios, duas viagens no trem, um em cada janela.
Editora Radiadora
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Impressão e acabamento: Expressão Gráfica
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Impressão e acabamento: Expressão Gráfica
segunda-feira, 13 de janeiro de 2020
intimidade
O teu silêncio é
íntimo.
O teu quarto,
a tua roupa pendurada
no cabide,
o quadro na parede é
íntimo.
Íntimo é o teu olhar,
as tuas lembranças,
a tua saudade,
as tuas cartas
rasgadas
nunca mandadas são
íntimas.
Uma canção gemida
nos teus lábios
é íntima como o beijo
leve,
como o abraço
profundo,
como o golpe da
lâmina,
como o sangue
jorrado.
Íntimo é o teu modo
de pentear os cabelos
diante do espelho,
o cortar das unhas,
o escovar dos dentes.
O teu banheiro é
íntimo,
mais íntimo é o teu
sexo.
As tuas artimanhas
no ventre são
íntimas.
O teu medo é íntimo,
o teu suor nas
axilas,
o pulsar do teu
coração,
o teu sono sobre o
travesseiro.
Íntimo é a escuridão
da tampa do ataúde
quando na tua carne
morta.
Íntimo é o teu
depois.
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Poema de meu primeiro livro Roteiro
dos pássaros, 1981, Prêmio Filgueiras Lima de Poesia, Editora e Gráfica
Lourenço Filho, Fortaleza, Ceará.
O escritor amigo Carlos Emílio
Correia Lima, parceiro da geração do Grupo Siriará de Literatura, sempre “me
cobra” uma nova edição do livro. À época a tiragem foi de 1000 exemplares, e
hoje me surpreendo quando encontro um exemplar no site Estante Virtual a preço
de raridade.
Outro dia, o poeta amigo de
Brasília, Domingos Pereira Netto, lembrou que em 2021 o livro fará 40 anos de
publicação, e merece uma edição comemorativa.
Juntando a “cobrança” de um com a
lembrança de outro, no próximo ano será lançada, pela Editora Radiadora, uma edição com
tiragem limitada, revisada e com mais um prefácio.
Na edição de 1981:
Projeto gráfico, capa: Rosemberg
Cariry
Prefácio: F. S. Nascimento
Epígrafe: Carlos Drummond de
Andrade
Textos da contracapa: F. S. Nascimento
e Arthur Eduardo Benevides
Foto: Celso Oliveira
sexta-feira, 10 de janeiro de 2020
naquela estação
crateús
cratheús como na inscrição da estação de trem
cratiús como no meu coração:
batata em meu prato
o lagarto que eu não matava com a baladeira
karati, karatús, karatis
o índio de uma tribo que nunca vi
o peixe que nunca pesquei em águas que nunca nadei
o nome do lugar está em mim
como topônimo neste poema
o logradouro onde me cabe
a saudade onde me espalho
a luz de um sol em minha rua.
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- trecho inicial do meu próximo livro, © Trem da memória - um poema
Textos de apresentação:
Mailson Furtado
Valdi Ferreira Lima
mais do que prefácios, duas viagens no trem, um em cada janela.
Editora Radiadora
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Designer gráfico da capa: Enzo Venancio
Impressão e acabamento: Expressão Gráfica
quarta-feira, 8 de janeiro de 2020
"amontoado" na "balbúrdia"
Elias Sampaio é estudante de Letras, Português e Francês, na Universidade Federal do Ceará, trabalha na Livraria Cultura: vive na "balbúrdia" e arrodeado de um "montão de amontoado de muita coisa escrita."
Grato, meu caro, por meu livro nesse amontoado.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2020
eu viajei de trem
Tudo foi tão de repente
diante dos meus olhos
que não houve tempo
para retornar ao corpo do menino
que brincava na calçada.
A memória viaja
- trem inútil -
e não traz as roupas
que se vestia nas tardes de domingo
e a estrada some
deixando o mundo
como um grande circo
na praça da estação.
(...)
Mas o menino sumiu:
foi embora como quem cresce
e silenciosamente
atravessou os trilhos noturnos
da ponte de ferro
sobre o rio poty
onde as águas são barrentas
e as lavadeiras tristes.
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- trecho inicial do meu próximo livro, ©Trem da memória - um poema
Textos de apresentação:
Mailson Furtado
Valdi Ferreira Lima
mais do que prefácios, duas viagens no trem, um em cada janela.
Editora Radiadora
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Designer gráfico da capa: Enzo Venancio
Impressão e acabamento: Expressão Gráfica
foto ilustrativa desta postagem
Ailine Liefeld
sexta-feira, 3 de janeiro de 2020
os olhos de Lila
Ser lido por quem fotografa: ser fotografado pelo coração.
Lila Almeida é fotógrafa e tem os olhos mais transparentemente atlânticos que já vi.
Gratidão, querida amiga, pelos meus versos em suas retinas.
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