O teu silêncio é
íntimo.
O teu quarto,
a tua roupa pendurada
no cabide,
o quadro na parede é
íntimo.
Íntimo é o teu olhar,
as tuas lembranças,
a tua saudade,
as tuas cartas
rasgadas
nunca mandadas são
íntimas.
Uma canção gemida
nos teus lábios
é íntima como o beijo
leve,
como o abraço
profundo,
como o golpe da
lâmina,
como o sangue
jorrado.
Íntimo é o teu modo
de pentear os cabelos
diante do espelho,
o cortar das unhas,
o escovar dos dentes.
O teu banheiro é
íntimo,
mais íntimo é o teu
sexo.
As tuas artimanhas
no ventre são
íntimas.
O teu medo é íntimo,
o teu suor nas
axilas,
o pulsar do teu
coração,
o teu sono sobre o
travesseiro.
Íntimo é a escuridão
da tampa do ataúde
quando na tua carne
morta.
Íntimo é o teu
depois.
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Poema de meu primeiro livro Roteiro
dos pássaros, 1981, Prêmio Filgueiras Lima de Poesia, Editora e Gráfica
Lourenço Filho, Fortaleza, Ceará.
O escritor amigo Carlos Emílio
Correia Lima, parceiro da geração do Grupo Siriará de Literatura, sempre “me
cobra” uma nova edição do livro. À época a tiragem foi de 1000 exemplares, e
hoje me surpreendo quando encontro um exemplar no site Estante Virtual a preço
de raridade.
Outro dia, o poeta amigo de
Brasília, Domingos Pereira Netto, lembrou que em 2021 o livro fará 40 anos de
publicação, e merece uma edição comemorativa.
Juntando a “cobrança” de um com a
lembrança de outro, no próximo ano será lançada, pela Editora Radiadora, uma edição com
tiragem limitada, revisada e com mais um prefácio.
Na edição de 1981:
Projeto gráfico, capa: Rosemberg
Cariry
Prefácio: F. S. Nascimento
Epígrafe: Carlos Drummond de
Andrade
Textos da contracapa: F. S. Nascimento
e Arthur Eduardo Benevides
Foto: Celso Oliveira
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