quarta-feira, 30 de novembro de 2022

domingo, 20 de novembro de 2022

no meio da capital


 "O menino ainda
meio sertão
no meio da capital"
- É uma poética transida de lembranças, como num caleidoscópio, ou melhor, num cinematógrafo, ou lanterna mágica, emendando na coladeira do tempo imagens esparsas que vão costurando uma narrativa testemunhada pelo poeta Nirton Venancio
Luiz Carlos Lacerda, cineasta e poeta
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Trem da memória
Editora Radiadora, 2022
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado
Lançado no dia 12
Disponível no estande Quadra Literária
XIV Bienal Internancional do Livro do Ceará
11 a 20 de novembro

sábado, 19 de novembro de 2022

o menino e o homem


 

"Se não trago o menino de volta

alcanço o homem e sua revolta."

"Trem da memória"
Editora Radiadora, 2022

Lançado dia 12
Disponível no estande Quadra Literária
XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

paráfrase

 


Eu não devia te dizer
mas esse calor
mas essa poesia
botam a gente desprovido como sempre!
sensibilidade, forma, musicalidade, desenho, inspiração para todo nosso versejar. Nirton Venancio , é sem dúvida, um grande poeta!
- Váldima Fogaça, poeta (Brasília)
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Os versos citados são do poema Paráfrase, do livro Poesia provisória, lançado pela Editora Radiadora em 2019.
Imensamente grato, Váldima. Poetas auscultam poetas.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

que trem é esse?


Não por acaso o cineasta e poeta Nirton Venancio realiza há alguns anos o filme Pessoal do Ceará – Lado A Lado B, registro da música cearense moderna, num trabalho solitário e de dedicação quase religiosa, num país onde impera a amnésia oficial. Sua ”matéria de memória” (alusão ao romance de Carlos Heitor Cony, faço eu) estende-se à poesia escrita, reunida no excelente Trem da memória, seu mais recente livro (Editora Radiadora, Fortaleza, 2022).

Esse trem não é da mesma conexão ferroviária do que apita, autoritário, na preocupação exclusivamente social da poesia de Solano Trindade, ou do singelo poema de Manuel Bandeira, enumerando o que seu olhar de passageiro elege da paisagem em movimento que se descortina da janela.
É uma poética transida de lembranças, como num caleidoscópio, ou melhor, num cinematógrafo, ou lanterna mágica, emendando na coladeira do tempo imagens esparsas que vão costurando uma narrativa testemunhada pelo poeta.
Opta pela simplicidade – a mesma encontrada nos pequenos vilarejos do Brasil - que nos remete aos poemas inaugurais dos primeiros dos nossos modernistas. Sem os artifícios gongóricos da Geração de 45, que reabriu as portas do Parnaso para suas medusas e apolos invadirem novamente a nossa literatura. No Nordeste não tem disso não!
“No quintal da grande casa
os verões passavam como nuvens
e sombreavam os gestos de menino
que se perdia na altura das formigas”
Teria escrito Graciliano Ramos em seu Infância (memórias, 1942), se mestre Graça descesse de seu agreste estado de espírito e se permitisse abrir o coração (e o verbo). Ou Manuel Bandeira, ainda pelas ladeiras do Recife.
“O nome do lugar está em mim
como topônimo neste poema
o logradouro onde me cabe...”
Associo à Itabira na parede de Drummond (“está em mim”); e o latifúndio (“que me cabe”) de João Cabral de Morte e vida Severina.
Esse trem poético de Nirton não para em nenhuma estação. Vai recolhendo da poesia brasileira e do cinema as referências que o seu inconsciente erudito e sensível sopra no seu ouvido. E retira de seu baú as joias da sua coroa particular e as expõe:
“focava sua luz neorrealista
no quintal em mim
para o dia que começava
no sertão sem fim”
Vejo logo a imagem do plano final de Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber, com Othon Bastos levando pela mão Yoná Magalhães (Corisco e Rosa), correndo pelo sertão seco e "sem fim" com a trilha composta por Sérgio Ricardo.
Ou:
“Na tela de reboco,
esse recorte é o quadro que brilha mais
no meu cinema paradiso”
E vai declinando sua história – como um filme, autobiografia em forma de relato:
“Fortaleza seria logo além
da saudade do quintal de Ibiapaba
da lembrança da cancela na fazenda
da memória da casa amarela de oitão.”
E desagua nessa obra-prima de verso que reúne toda amorosa memória olfativa jamais descrita:
“o aroma de leite de rosas de minha mãe
(sempre gotas entre os seios e o coração)”.
Entre a herança das rimas dos cordéis do sertão e sob a sombra que a nossa antropofagia mastigou dos hai-kais orientais, ousa dizer que
“Cada verso me arreda.
Cada palavra me envereda”
Ao enveredarmos por essa viagem, como seu trem e serpente de chocalho sibilino e canto de sereia, dessas que surgem entre as pedras e os mandacarus das secas milenares e, hipnotizados pelos zóios da cobra verde de seus versos, nos ajoelhamos, gratos, com a consciência que essa poesia inoculada não tem cura. Nem nunca terá.
Nirton dedica as três últimas páginas de seu livro enumerando nomes e lugares – numa lista interminável, como os agradecimentos nos filmes brasileiros.
- Luiz Carlos Lacerda, cineasta e poeta (Rio de Janeiro)
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Em meados da década de 70, eu adolescente na capital cearense, vindo do interior, inocente, puro e besta, escrevendo escondido poemas e diários, vendo um filme atrás do outro, um dia saí fascinado de uma sessão no cine Diogo: “Mãos vazias”, primeiro longa de Luiz Carlos Lacerda. Aquele filme de narrativa irregular e ousado na sua postura e linguagem transgressora, deu uma sacudida em minha forma de ver cinema brasileiro. E tudo que eu queria era conhecer o diretor. E ser também cineasta.
Dando um salto no tempo, como numa elipse cinematográfica, porque a história é comprida, há mais de 30 anos proximidade e amizade se fizeram, mesmo com encontros esparsos.
Seu olhar sensível e afetuoso sobre Trem da memória é um prêmio na fortuna crítica do livro. Imensa gratidão pelo texto, caro amigo. Esse trem que o título indaga é o que leva a mesma estação dos que se querem bem. Abraço-te.

domingo, 13 de novembro de 2022

encontro de poetas


À esquerda - sempre - os poetas Alan Mendonça e Mailson Furtado, respectivamente, editor e posfaciador do meu livro Trem da memória (Editora Radiadora, 2022).

encontros marcados


"Estive com Nirton Venancio muito menos vezes do que gostaria. Foram encontros culturalmente intensos, em cinemas e festivais do nordeste e de Brasília. Encontros marcados por um número grande, embora nunca unânime, de afinidades eletivas.

Vi praticamente o cineasta nascer, constatando em seus filmes a poética de imagens que hoje me surgem aos olhos em forma de literatura. Sempre generoso, Nirton fez chegar às minhas mãos seu livro de poesia memorialista 'Trem da Memória' (Editora Radiadora, 2022), percurso de sua pequena Cratéus, Ceará, aos grandes centros cosmopolitas, nos quais o cineasta/poeta se viu fisgado pelos '24 quadrinhos' das imagens em movimento.
Nirton confirma minha tese de que nossa geração foi uma das últimas que chegou às salas de exibição pelo afeto familiar e muito antes da fúria digital ser a porta de entrada às imagens para os miúdos.
'Trem da Memória' resume seus intuitos num verso citado de Narlan Matos que descortina o porvir e sintetiza a matéria da qual é feita o cinema e a literatura de Nirton, sempre indissociáveis: “um dia minha vida / foi ao cinematógrafo / e nunca mais voltou para casa.” A minha também, camarada."
- Ricardo Cota, jornalista, crítico de cinema (Rio de Janeiro).
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Trem da memória foi lançado ontem na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará, e encontra-se disponível no estande da Editora Radiadora, na Quadra Literária.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

nos trilhos da Bienal



O trem chegou à estação João Felipe
e continua nos trilhos de minha vida.
Na capital
as bancas com suas notícias
a Cruzeiro com a miss na capa
os cowboys destemidos da EBAL.
Puxo os vagões da memória até quando?
O poema não acaba nunca.
O que escrevo são incompletudes:
há sempre quem lembro
e volto a sua casa
peço água e pergunto se sabe de mim
- o neto da costureira, o filho do bodegueiro
há sempre quem deslembro
e bate a minha porta
nada pede e pergunta se conheço quem foi
- o pai de lourim, o avô de fransquim.
Vocês não sabem
o peso e a pluma que são?
o chão e o pássaro que vão?
- Trecho do meu livro Trem da memória (Editora Radiadora, 2022), que será lançado na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará.
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Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado
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No lançamento:
Leitura de poemas: Alan Mendonça e Nirton Venancio
Apresentação musical: Charles Wellington, com a composição Se eu me chamasse Drummond, letra de um trecho do livro