quinta-feira, 26 de abril de 2007

armadura

foto Mário Cravo Neto


Meu corpo é a única coisa que tenho
que é nada
e como suicida
luto contra moinhos, tempestades e solidão
que é tudo.

Escondo-me nesta armadura de ossos, carne
e vestimentas
e espio a vastidão do mundo pelos buracos dos olhos
como quem espia lugares estranhos
infinitos
perigosos.

Meu corpo é a única coisa que tenho
para carregar o pretexto da alma.
É magro, feio e escandaloso
o corpo
mas é única coisa que tenho
para caminhar pelo tempo e pelos sertões.

Garantia não tenho
se o meu corpo é forte e frágil ao mesmo instante
se sujeito-me ao abismo
ao chão
à poeira
se estou marcado para me tornar saudade
lembrança
e fotografias
e me história não terá mais
um cavalo para montar
e serei uma estátua invisível no espaço.


Garantia não tenho de nada
nada
não levarei escondido no bolso
nenhuma semente
nenhum suspiro
nenhum gesto
pois tudo é podre
condenável
consumível.
Só é garantido o mais difícil:
a miragem na imensidão
o que se supõe ao longe
o completo mistério
para se chegar até lá
não se sabe com que corpo
não se sabe com que asas
não se sabe.



(do livro “Poesia provisória”)

sábado, 21 de abril de 2007

harmonia

foto Max Paris


É preciso
um tom sobre o tom:
como o azul
sobre o pássaro
como o meu carinho
sobre o teu.

(do livro “Poesia provisória”)

segunda-feira, 16 de abril de 2007

parecer

foto Marília Campos

Pode ler
pode guardar
pode rasgar.

Tenho versos para todos os desgostos.

(do livro “Poesia provisória”)

sábado, 7 de abril de 2007

verso

foto Larry Wiese

"O tempo não é o mesmo
sobre os aviões e os pássaros:
nas asas de um
é tudo muito rápido
nas asas do outro
é tudo muito livre."

(do poema "Abstrato" no livro "Poesia provisória")

segunda-feira, 2 de abril de 2007

reversos - um

foto Alberto Monteiro


"sou marinheiro que parte:
cada dia é um porto que fica."


(do poema "Vertical", no livro "Roteiro dos pássaros - remixado")