quarta-feira, 25 de novembro de 2009

toda


 foto Pietro Adelchi
 
Volta 
e
meia
a
lua
volta
inteira.

(do livro "Poesia provisória")

domingo, 8 de novembro de 2009

exílio


foto Lukas Stevenson
   
Escrevo-te distante.
Não meu corpo tão longe do mar:
distante do oceano.


Vivo por enquanto a quilômetros de mim.
O que restou aos teus olhos
é o que mantém a lembrança
de um pouco que me definia.


Vago a olhar-me para trás
e de lá tento me alcançar de volta.


Não me perguntes o que houve.
Tão logo um lado e outro se reencontrem
passarei por tua casa.


(do livro “Poesia provisória”)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

o morto


Gil Vicente, nanquim sobre papel

O morto
tomou destino ignorado:

em que planície nos céus
sibila o seu silêncio?

Com sua armadura desfeita
o que resta é inútil:
não suporta o vento
(que sopra com a chuva)
não será restaurado nos museus
(que espiam a história)
nem se moverá com as lembranças
(que amontoam os retratos).

O morto
tomou destino ignorado.

II
Não tenham medo:
o morto não se levantará
de sua solene posição

deitado como nunca
com seu nariz e seu sapato
             em
              riste. 

III
O morto
      (saibam)
não segue no cortejo:
      segue um morto
      (peso inútil)
      que o limite do nosso olho vê.

IV
O morto independe da vontade
dos que lhe jogam areia e flores
dos que lhe dizem orações e calam
dos que choram e esquecem
-          o morto
                  agora
                            é eterno.

V
Lembramos o tamanho do morto
com suas roupas
com sua voz
com sua dor
e choramos o tamanho que falta
                      a lágrima que salta
                      em nós
até quando aprendermos
a não ser somente vivos.
  
VI
De nada mais sabemos
até que o morto nos mande notícias
e que seu vulto passe ao longe
como passam os viajantes
                               (depois)
                               do entardecer.

VII
Maior é o morto
       na viagem
que ele continua
  
(em que planície nos céus?).


(do livro "Poesia provisória")