Escrever é se expor muito. Escrever é se expor até quando se esconde, quando se disfarçam em sinônimos feitos e defeitos. Escrever é um perigo. Escrever é uma traição. Escrever é ficar nu em plena praça. Escrever é se encontrar e se perder na mesma via de contramão. Escrever é desenhar símbolos que o cérebro comanda. Escrever é um ato neurológico, mesmo quando levado pela correnteza do coração. Escrever é auscultar sentimentos. Escrever é morrer um pouco e amanhecer na leitura.
(Os poemas aqui publicados estão registrados na Biblioteca Nacional. Podem ser reproduzidos desde que mencionados a fonte e o autor)
segunda-feira, 25 de julho de 2016
domingo, 10 de julho de 2016
ganhando a vida em um domingo
foto Rosângela Fialho
Caminhando certa vez em um
domingo chuvoso pela deserta W3 Sul, em Brasília, encontro-me com o poeta
Arthur Rimbaud... ele me parou com aquele olhar de absinto e me disse os
primeiros versos do poema Canção da mais alta torre, soando lentamente
como uma advertência: "por delicadeza / perdi minha vida...". E saiu.
Quando me virei, vi que ainda
mancava de seu problema no joelho direito. Sumiu por uma daquelas entradas de
uma banca de jornal no meio da quadra.
Ainda extasiado com esse
encontro, volto a andar e logo me deparo com Che Guevara acendendo o charuto
sob a chuva... Olhou-me com aquele olhar da foto de Alberto Korda, soltou uma
baforada no meu rosto, que achei ótimo, e disse: "o poeta ali tem razão,
camarada... mas é preciso endurecer, sem perder a ternura...", e continuou
andando. Viro-me e alguns passos depois ele para, me olha fixamente, e
completa, erguendo o charuto: "jamais!".
Ganhei o domingo. Eu que andava
como no filme de Jean-Claude Brialy, Os indiscretos pingos de chuva, me vi Gene
Kelly em Cantando na chuva.
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