segunda-feira, 2 de outubro de 2017

doce poesia

Doce Poesia Doce é um projeto da Edital Arte Todo Dia – Ano III, Fundação Gregório de Mattos, prefeitura de Salvador.
De 17 de setembro a 8 de outubro 10 mil poemas impressos embalando balas doces serão distribuídos gratuitamente em praças, escolas, hospitais e postos de atendimento na capital baiana.
Foram 400 poetas selecionados do Brasil e exterior, com 20 cópias de cada um dos poemas escolhidos, totalizando as 10.000 poesias doces para distribuição.
Os poemas estão também postados nas páginas:

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

sol de primavera

foto Luis Carlos Bill
Em Crateús, nas brenhas secas dos Inhamus cearense, primavera era uma estação de trem distante, muito distante, tão distante que nem existia. Que diria outono, que nem aparecia. 
As duas estações de outras cidades a léguas tiranas do sertão, só marcavam nas folhinhas do calendário na parede... e meus olhos retirantes imaginavam o trem nas trilhas.

Na via férrea que cortava o meu fim de mundo, o trem só trazia vagões com a fumaça do verão, e do último, bem lá atrás, jorravam as águas do inverno que transbordavam meu açude no quintal, subiam o verde da roça, e banhavam meu sorriso na bica na calçada.
Abaixo da linha do equador do meu peito, a primavera sempre existiu. Seguida do inverno, a estação reflorescia os ladrilhos ainda molhados. Assim como o outono no coração do menino... e as folhas que caiam das árvores onde brincava de esconde-esconde. O tempo sempre me encontrava.

sábado, 26 de agosto de 2017

o deserto de cada dia

Metrô lotado.
Braços e corações pendurados
no balanço subterrâneo.
Todos ilhados em seus smartfones, iPhones...
O vagão é um deserto pulsante.

terça-feira, 16 de maio de 2017

paráfrase

O domingo me deixa a casa deserta quando atravessa a segunda e não olha pro sábado.

metade

O que se vê em mim
não é o todo:
escondo gestos.
O que se sabe de mim
(ainda) não é tudo:
escondo datas
Metade que nem eu mesmo sei
mais corrói do que vive e cresce:
e silenciosamente é uma doença
(e não me esquece).

Convivo como caça e caçador
dentro de mim:
uma hora me acho
a outra não me aceita
e sou metade do rosto desenhada
a outra metade desfeita.

sábado, 6 de maio de 2017

nostalgia

A saudade nos parte em dois...

quinta-feira, 16 de março de 2017

infância

A infância me levou ao cinema numa tarde no interior.

O cinema me levou a um tempo próximo e distante da fantasia, da idealização inquebrantável que as crianças fazem de um mundo perfeito.

Crescer tem o inconveniente do mundo ficar muito palpável. O dia é irreversível.  A esperança necessita de muito esforço.

O cinema me levou à infância numa tarde do interior. Não encontrei o caminho de volta para casa.

segunda-feira, 13 de março de 2017

colheita



"todo peito
é um roçado
para toda safra
ser das rosas."

Do meu poema Galope, livro Roteiro dos pássaros, 1981 

sexta-feira, 10 de março de 2017

a quem interessar possa

À época, a tiragem foi de 1000 exemplares. Não sei quantos vendidos na noite de lançamento, não me lembro quantos ficaram comigo e doei todos para amigos, não tenho ideia de quantos deixei nas livrarias em consignação, uma quantidade ficou com a Fundação Lourenço Filho, em Fortaleza, que patrocinou a publicação como prêmio do concurso... e um exemplar guardo como troféu na minha estante real.
Agora o site Estante Virtual tem um único exemplar disponível a preço de raridade.
A poesia é gratificante por isso, e expressa exatamente aquilo que não permito que me empreendam: o recolhimento do meu voo, a desfaçatez de dizerem que o Ícaro em que acredito não pode seguir viagem.

domingo, 5 de março de 2017

a poesia

foto B. Berenika, 2012

Para que serve a poesia? Para expressar exatamente aquilo que não permito que me empreendam: o recolhimento do meu voo, a desfaçatez de dizerem que o Ícaro em que acredito não pode seguir viagem.

chuva


Chove muito lá fora na cidade onde estou. 

Chove muito em mim na saudade onde sou.