segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

através da palavra


A Poesia de Nirton Venancio de provisoriedade não tem nada. É definitiva e eterna, como é - por definição - a verdadeira e boa Poesia.

Marcada pela pós-Modernidade, como os de 22, com sua forma bem humorada de reler o cotidiano e de seus signos, mas "manchando de humano o lago" (Mário de Sá-Carneiro) dessa paisagem sobre a qual aponta seu observatório poético ("Dói / este cotidiano gesto / de ser poeta / e explorar as tardes / com seus terrenos / suas nuvens, / suas esquinas (...)".

Tanto a atemporalidade quanto o redimensionamento da linguagem regional diagnosticam uma claustrofóbica insatisfação e desejo de universalidade ("dentro de mim/cabe o universo/ e mais o vilarejo onde nasci."). Evocação dos versos de Drummond ("Tenho duas mãos/ E o sentimento do mundo"). Poeta, aliás, que surge frequentemente como sua maior influência. ("Não sei nadar / nem andar de bicicleta. // Mas sei / abraçar / caminhar ao teu lado / e escrever poemas para atravessar os dias. / Para alguma coisa servem as minhas inutilidades."). Com uma pitada de Manoel de Barros nesse verso final. Quase como um ex-libris da pretendida transitoriedade de sua Poesia.

Neste seu mundo habitado por questionamentos filosóficos e existenciais é através dela, de sua Poesia, que já deixou sua marca - a cada um o sítio arqueológico que lhe cabe - através da Palavra. Iluminada palavra que abre seus caminhos próprios.