Nasci em crateús, sertão dos inhamus, ceará, numa manhã de fevereiro, dia 15, uma terça-feira, uma semana antes do último dia carnaval. A lua estava minguante. Enquanto eu crescia rumo à lua nova, me esquivava da folia que chegava no peito de minha mãe que me guardava.
Aprendi as letras e os números com madrinha francisca e nunca apanhei de sua palmatória pendurada na parede.
Cresci entre fiapos de pano das máquinas de costura de minha avó e tias-avós, que fizeram minhas primeiras roupas para usar nos retratos e na praça da matriz.
Fui para Fortaleza aos dez anos de idade. Morei numa casinha de três vãos no final do bairro Nossa Senhora das Graças e começo do Pirambu. Meu pai era operário da Fábrica São Judas Tadeu e defendia as reformas base de Jango. Estudei no Monsenhor Hélio Campos, no Sales Campos, no Liceu, no João Pontes, e Letras na Universidade Estadual do Ceará.
Escrevi nos muros, nos cadernos Avante, em papel almaço, na palma da mão. Escrevi cartas, me escondi nos diários, me expus nos cadernos literários dos jornais, em páginas de revistas. Publiquei livros de poesia, ganhei prêmios, perdi outros. Sou professor de Literatura e aprendo com quem me escuta.
Aprendi cinema nos sets. Escrevi roteiros e continuo. Dirigi filmes e sou reincidente, ganhei prêmios, perdi tantos. Sou professor de cinema e aprendo com quem me assiste. Não seria cineasta se não fosse antes poeta.
É só. É tudo. Tenho a idade que aparento.
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Dados biográficos no meu livro-poema Trem da memória, dedicado à casa onde nasci, em que narro minha infância do interior (onde rabisco os nomes próprios em letras minúsculas, porque sou menino) aos primeiros anos na capital (onde escrevo com maiúsculas porque acho que sou adulto).
Com lançamento presencial adiado, pela
Editora Radiadora
, desde março do ano pandêmico de 2020, a previsão será não sei quando for possível a aglomeração dos afetos.