quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Poesia em Cartaz


"É com grande alegria que damos início à segunda edição do projeto Poesia em Cartaz.
E para abrir essa jornada, temos mais 20 poetas, letristas, romancistas nesta edição.
Destacamos a poesia de Nirton Venancio.
Poeta reconhecido, Nirton foi premiado em vários concursos nacionais de poesia. Publicou os livros Roteiro dos pássaros (prêmio Filgueira Lima de Poesia), Cumplicidade poética, Poesia provisória e Trem da memória. Além disso, é um dos fundadores do Grupo Siriará de Literatura e editou a revista Comboio de Literatura, ambos em Fortaleza.
Cineasta festejado, seu curta-metragem Um cotidiano perdido no tempo recebeu o prêmio Margarida de Prata da CNBB, além de melhor filme e melhor fotografia na Jornada da Bahia. E O último dia de sol foi premiado nos festivais de Curitiba, Cine Ceará e no Maranhão recebeu o Troféu Jangada da Organização Católica Internacional de Cinema.
Senhoras e senhores, com vocês, Nirton Venancio, um mestre da palavra e da imagem.
Nirton, pra mim, você é um dos grandes responsáveis por incendiar a cena cearense de literatura. Que honra ter você com a gente neste projeto, amigo! Arre-égua, macho! Evoé!
Serão 20 outdoors, 20 poetas, 20 poemas pelas ruas de Fortaleza. Uma miscelânea de vozes para dar conta da poesia nos dias de hoje.
A segunda edição vai acontecer de 06 a 19 de outubro. Ou seja, todos os participantes, a seu tempo, terão o momento de ver seu trabalho na rua e repercutindo nas redes sociais".
- Paulo Fraga-Queiroz, poeta e publicitário

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

eu viajei de trem


 "Nirton, finalmente estou conseguindo tempo pra me dedicar a seu livro.

Que bonita essa edição. E que belo e emocionante poema, meu amigo. Todo o conjunto (projeto gráfico, capa e a escrita falam a mesma língua, andam na mesma direção) me leva a viagem que é a sua, por óbvio, mas que também é daquela criança que ainda nos habita e entre nuances e um verso ou outro nos acena. De longe, porém dentro da gente. Enquanto a vida acontece quadro a quadro, da janela, enquanto o trem vai seu caminho. Estou emocionado, amigo! E a viagem ainda não terminou!
Não é à toa que desde a faculdade sou seu fã!"
- Paulo Fraga-Queiroz, poeta e publicitário (Fortaleza-CE)
..........................................................................................
Trem da memória, Editora Radiadora, 2022

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

o bruxo e a paisagem


Ilustração: Daniel Kondo

Numa das primeiras vezes que Hermeto Pascoal fez show em Brasília, ficou encantado com a cidade. Não exatamente com a arquitetura diferente, mas com o verde por todos os lados.

Quando o carro, vindo do aeroporto em direção ao hotel, entrou no Eixão Sul, uma das largas avenidas de seis faixas que formam o desenho da asa do avião, o músico esverdeou seu olhar albino.
Durante o percurso, entre silêncios e murmúrios melódicos improvisados, elogiava a paisagem na rodagem horizontal da janela.
Em um momento, disse, mais para si do que para quem estava ao seu lado: “Só faltam uns cabritinhos pastando nessa grama”.
Esse episódio sempre me comoveu. No livro de poemas que estou finalizando, A distância e a paisagem – Escritos sobre Brasília, menciono em um trecho:

“e os bodes pastando no verde do Eixão
que o bruxo Hermeto chegando imaginou”.

Ele partiu ontem aos 89 anos.
Ficam na história da música brasileira, em nossa memória afetiva e no molde da saudade, seus hermetismos pascoais que nos salvam e sempre nos salvarão dessas trevas, como bem definiu Caetano. 

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Silvio Tendler

Fotos: Eduardo Knapp e Raphael Lucas


“Ficarei muito feliz em me ler na tua poesia”
O cineasta Silvio Tendler me enviou essa mensagem em 2022, quando lhe disse que é citado em um trecho do meu livro Trem da memória (Editora Radiadora).
Meu caro amigo partiu hoje, aos 75 anos.
Uma manchete pulsando na província do meu coração.
Uma notícia que se derrama no presente de saudade.
.............................................................
Da janela da casa
olhei debruçado
a história explodindo na rua Firmino Rosa:
os disparos no presidente em Dallas
os tanques de 64 vindo de Minas
dom Fragoso chegando da Paraíba
:
manchetes do mundo no beco da província
e o menino guardando tudo
para o poema no futuro do presente:
- um take de Oliver Stone
- um arquivo de Silvio Tendler
- um frame de De Sica. 

sábado, 16 de agosto de 2025

53 anos


  foi lá

onde o menino se fez adolescente
e viu o pai
- que doente sumiu numa tarde aleatória
- que contente reapareceu sem história
- que poente se foi e se fez memória
ele ali inerte deitado como nunca
com seu nariz e seu sapato
em
riste
ocupando o lugar da mesa de jantar
todos sem bússola no meio da sala:
minha mãe que chorava
a penca de filhos que soluçava
a vizinhança curiosa que acalmava.
..................................................................
Trecho do meu livro Trem da memória, Editora Radiadora, 2022
A vida toda é saudade.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

o morto


 I

O morto
tomou destino ignorado:
em que planície nos céus
sibila o seu silêncio?
Com sua armadura desfeita
o que resta é inútil:
não suporta o vento
(que sopra com a chuva)
não será restaurado nos museus
(que espiam a história)
nem se moverá com as lembranças
(que amontoam os retratos).
O morto
tomou destino ignorado.
II
Não tenham medo:
o morto não se levantará
de sua solene posição
deitado como nunca
com seu nariz e seu sapato
em
riste.
III
O morto
(saibam)
não segue no cortejo:
segue um morto
(peso inútil)
que o limite do nosso olho vê.
IV
O morto independe da vontade
dos que lhe jogam areia e flores
dos que lhe dizem orações e calam
dos que choram e esquecem
- o morto
agora
é eterno.
V
Lembramos o tamanho do morto
com suas roupas
com sua voz
com sua dor
e choramos o tamanho que falta
a lágrima que salta
em nós
até quando aprendermos
a não ser somente vivos.
VI
De nada mais sabemos
até que o morto nos mande notícias
e que seu vulto passe ao longe
como passam os viajantes
(depois)
do entardecer.
VII
Maior é o morto
na viagem
que ele continua
(em que planície nos céus?)
......................................................................................
Publicado no livro "Poesia provisória", Editora Radiadora, 2019

domingo, 29 de junho de 2025

alguma coisa



Do meu livro Poesia provisória (Editora Radiadora, 2019).
Aos amigos Aíla Sampaio e Elias N Sampaio.


 


quinta-feira, 19 de junho de 2025

domingo, 23 de março de 2025

voltando de trem


Trem da memória é um belíssimo e inspirador livro de poema escrito por quase 30 anos pelo poeta, cineasta e professor Nirton Venancio, lançado pela Editora Radiadora em 2022.
Nirton legou a todos os apreciadores de boas leituras um poema que atravessa gerações, tempos e entrecruza histórias. Li-o e ainda o leio, pois toda leitura que façamos dele sempre nos desperta uma outra mais.
Inspirador, os versos ali existentes me levaram a levantar questões sobre as idas e vindas do eu lírico (o próprio poeta em projeção) ao seu lugar de origem. Quem já migrou de sua cidade natal para outras plagas saberá entender o quão pode ser desafiador tal processo.
Dessas questões, nasceu a canção Minha volta, no estilo nordestino do xote, poema-letra de minha autoria com o parceiro Luciano Franco, que desenhou uma belíssima melodia, criou caprichados arranjos instrumentais e me instigou a ser o intérprete.
Portanto, inspirada no poema de Nirton (uma nova parceria), a canção foi gravada no meu disco Sonho é para sonhar, acessível nas plataformas musicais.
A belíssima capa é criação do poeta, cronista e artista plástico Euclides Themotheo Themotheo
- Chico Araujo
.......................................................................................................

Meu caro amigo Chico, bom saber que escrevemos poemas para atravessar os dias, palmilhar o chão do tempo, encontrar outros poetas nessa viagem. 

segunda-feira, 17 de março de 2025

a casa


 Trem da memória, Editora Radiadora, 2022

sábado, 15 de março de 2025

a poesia


Do meu livro Poesia provisória, Editora Radiadora, 2019.

 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

domicílio em Canoa


O meu poema, a música de Charles Wellington , o traço de André Dias, que criou o clipe.

Selecionado para o mostra competitiva do 14° Festival Latino-Americano de Cinema de Canoa Quebrada, o Curta Canoa, será exibido na programação de hoje.
Todos domiciliados no mesmo espaço do afeto. 

sábado, 11 de janeiro de 2025

de poeta para poeta


Quando conheci Nirton Venancio, o abraço foi o de amigos de muito tempo, tamanha a emoção de nosso encontro frente a frente.
Quem nos pôs em rota de celebração mútua foi o fundamental Alan Mendonça, quando, pouco tempo antes, me possibilitou participar de vivências poéticas virtuais realizadas pela Editora Radiadora, pelos 2020 impossíveis de esquecer.
Foi também Alan quem me possibilitou o apaixonamento pela poesia "nada transitória", como costumo repetir, emergida por Nirton.
Nirton Venancio tem ares tímidos e uma doçura inigualável. A poesia dele é algo extraordinariamente envolvente. De tal maneira nos toma o espírito e as pulsações que não nos satisfazemos com uma leitura somente de seus versos.
Já disse a ele: Poesia provisória e Trem da memória estão sempre por perto, porque se tornaram importantes para mim, tal qual a poesia que também pulsa no poeta Alan Mendonça.
As duas páginas posta aqui são excertos do livro Trem da memória. Reparem na sutileza das imagens criadas, na inquietante e precisa seleção vocabular, no poético e emocionante tratamento que esse poeta dá às suas memórias.
Saboreiem os excertos e, depois, invistam na leitura plena de Trem da memória. O livro está disponível no site da Radiadora.

- Chico Araújo, poeta 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

vida cabralina


Fotos: BBC News Brasil

Abro um dos cadernos onde anoto datas de chegadas e partidas de escritores, e vejo que hoje completam 105 anos de nascimento do poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto. Esse meu hábito cartorial afetivo faz-me sempre estar em contato com minhas referências e assim reverenciá-los.
Lembrei-me de um fato inusitado em sua vida.
Em 1952 João Cabral servia na embaixada em Londres. Nas pausas dos trabalhos burocráticos, lia poemas de Dylan Thomas, assistia a filmes de Alfred Hitchcock, não perdia os jogos do Chelsea, e colaborava com a revista do Partido Trabalhista inglês.
Foi para uma edição desse periódico que Cabral escreveu ao colega Paulo Cotrim Rodrigues Pereira, lotado em Hamburgo, Alemanha, pedindo-lhe um artigo sobre a economia brasileira. No trânsito entre as mesas, a carta passa pelas mãos de Mário Calábria, diplomata então secretário de Guimarães Rosa na embaixada.
Suspeitando de uma célula comunista no Itamarati e que o poeta pernambucano faria parte com outros diplomatas, entre eles o filólogo Antônio Houaiss, Calábria mandou cópias para Estado-Maior do Exército Brasileiro e para o jornalista Carlos Lacerda, notório opositor de Getúlio Vargas. Resoluto em atacar o governo via embaixadas, Lacerda divulga a carta em seu jornal, Tribuna da Imprensa, com a estrondosa manchete: "Traidores no Itamarati".
João Cabral, perplexo, foi afastado de suas funções, chamado ao Brasil para responder a um inquérito e colocado em disponibilidade sem vencimentos. Até 1954, quando foi reintegrado, por decisão do STF, o poeta, com mulher e três filhos, sobreviveu escrevendo editoriais e obituários para os jornais Última Hora, de Samuel Wainer, e A Vanguarda, de Joel Silveira.
De volta à diplomacia, João Cabral foi para Barcelona. Viveu sua carreira diplomática, de 1945 a 1990, por 14 países, como cônsul e embaixador. Sua paixão era, declaradamente, a Espanha, principalmente em Servilha, onde dizia se sentir em casa.
Gostava de assistir touradas, e comparou a lida na arena com o ofício da escrita. Em entrevista a José Castello, autor da biografia João Cabral de Melo Neto: O homem sem alma, disse: "O poeta é como o toureiro, precisa viver medindo forças com a morte, ou não vive".

sábado, 4 de janeiro de 2025

a última viagem


Foto: Acervo Collection Catherine et Jean Camus
Na manhã de 4 de janeiro de 1960 o escritor franco-argelino Albert Camus comprou passagem de trem de Villeblevin à Paris. Iria em companhia de seu amigo, o poeta René Char, a quem considerava o maior desde Rimbaud e Apollinaire. Seriam 105 quilômetros de boa conversa sobre literatura enquanto da janela admiravam a paisagem verde riscando de leve. Imagino a cena e sento-me no banco detrás, observando cada gesto, ouvindo cada palavra.
Mas Camus de última hora aceitou o convite do seu editor Michel Gallimard e entrou no sedã Facel Vega Excellence. Completavam a lotação a esposa e a filhinha de Michel e o cachorro. Já perto da cidade Sens, o carro repentinamente rodopia, descontrola-se em direção a uma árvore, bate em outra e se arrebenta. O escritor morre na hora, o editor dias depois, a mulher e a menina se salvam e o animal sai em disparada. Nunca o encontraram.
A primeira vez que li sobre as circunstâncias de sua morte, entrei em reflexões e perplexidades sobre as ironias, sortilégios e artimanhas do universo.
Ao lado do corpo de Camus, a maleta com os originais manuscritos do romance autobiográfico que estava escrevendo, uma espécie de testamento literário e político de suas origens na Argélia, O primeiro homem. Numa anotação visionária, registrou nas primeiras páginas que aquele livro não deveria ficar inacabado. Foi publicado por sua filha, Catherine Camus, em 1994. O escritor sempre comentava com os amigos que "nada é mais escandaloso do que a morte de uma criança, e nada mais absurdo do que morrer num acidente de automóvel".
No capítulo I desse livro postremo, há um trecho em que considerações sobre o sentido da vida, sobre o efêmero que somos e o eterno que pretendemos, se acentua como prólogo de uma dissertação filosófica que se desenvolve ao longo dessa busca proustiana. Jacques Cormery, o personagem quarentão alter ego de Camus, depois de visitar o túmulo do pai que não conheceu, vai à casa do amigo Victor Malan, alfandegário aposentado, a quem devota atenção.
- Quando se tem 65 anos, cada ano é uma prorrogação. Gostaria de morrer tranquilo, e morrer é assustador. Eu nada fiz. – Diz o amigo.
Jacques, com o olhar filial, contrapõe com apreço e reconhecimento.
- Há pessoas que justificam o mundo, que ajudam a viver só com sua presença.
Albert Camus teve um final absurdo e seu tempo não foi prorrogado, mas os intensos 46 anos vividos e sua obra justificam o mundo.