(Os poemas aqui publicados estão registrados na Biblioteca Nacional. Podem ser reproduzidos desde que mencionados a fonte e o autor)
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
sábado, 20 de dezembro de 2008
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
medida
soltos,
os beijos
largos,
os abraços
estradas,
os passos
?
(do livro “Poesia provisória”)
domingo, 14 de dezembro de 2008
recorte
me subtrai (um pouco) a intimidade.
(um verso de "Postura", do livro "Poesia provisória")
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
asas

o chapéu contra o sol
tirem-me até os braços
as pernas
tampem-me os olhos
mas não tirem as asas
que criei pra mim
tirem-me o domingo
a manhã contra a noite
tirem-me até os feriados
os dias santos
rasguem os calendários
mas não tirem o tempo
que criei pra mim
tirem-me os lábios
o beijo contra o gelo
tirem-me até a voz
o delírio
adormeçam o sexo
mas não tirem o coração
que criei pra mim
(do livro “Poesia provisória”)
domingo, 7 de dezembro de 2008
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
metade

não é o todo:
escondo gestos.
O que se sabe de mim
(ainda) não é tudo:
escondo datas
Metade que nem eu mesmo sei
mais corrói do que vive e cresce:
e silenciosamente é uma doença
(e não me esquece).
Convivo como caça e caçador
dentro de mim:
uma hora me acho
a outra não me aceita
e sou metade do rosto desenhada
a outra metade desfeita.
(do livro “Poesia provisória”)
domingo, 16 de novembro de 2008
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
pronominal
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
linha
no meio da sala
é a mesma que estranhamente
nos enlaça
e assim como nos ameaça
nos joga no mesmo abraço.
Se você parte por um século
ou por segundos me ausento,
fica sempre do outro um pedaço
na viagem solitária
de quem segue em desalento.
(do livro “Poesia provisória”)
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
domicílio
meu coração mudou-se.
Pouco resta do antigo inquilino.
A casa está vazia.
(do livro “Raios”)
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
regime
como medida.
Não ponha açúcar no café.
De doce basta a vida.
(do livro “Raios”)
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
reverso
terça-feira, 23 de setembro de 2008
a paisagem e a distância (fragmento)

na história de
um homem?
não se sabe ao certo
como não se explica
por que esse homem respira
e o que alimenta
tantos desejos
a cidade
(no final das contas
e das ruas)
é mistura confusa
de susto e alívio
que abraça e larga
nossa carne
como quem ama e desaparece
apesar dos desenhos
que orientam o presente
a cidade
é o mistério
sobre a cabeça dos homens
que caminham sobre passos
novos a cada desejo
grandes a cada abraço
profundos a cada vontade.
domingo, 7 de setembro de 2008
cofre
Quando quiseres
venhas
e gires com as pontas dos dedos
o meu coração.
Encontrarás
teus segredos nos meus olhos abertos.
Guardo no peito
o íntimo
de quem se achega.
(do livro "Poesia provisória")
sábado, 12 de julho de 2008
terça-feira, 8 de julho de 2008
carinho
Minha mão passeia
sobre a fertilidade de tua pele
e não existe nada mais além dessa
eternidade.
Passeia como se voasse
(se pássaro eu fosse
e asas minhas mãos lentas)
mas é vôo
tudo que o amor
nesse momento conduz ao sempre.
(do livro “Poesia provisória”)
quinta-feira, 12 de junho de 2008
terça-feira, 3 de junho de 2008
exílio

Não meu corpo tão longe do mar:
distante do oceano.
O que restou aos teus olhos
é o que mantém a lembrança
de um pouco que me definia.
e de lá tento me alcançar de volta.
Tão logo um lado e outro se reencontrem
passarei por tua casa.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
estima

(do livro “Roteiro dos pássaros – remixado”)
quinta-feira, 24 de abril de 2008
trem da memória (fragmento)
diante dos meus olhos
que não houve tempo
para retornar ao corpo do menino
que brincava na calçada.
A memória viaja
- trem inútil -
e não traz as roupas
que se vestia nas tardes de domingo
e a estrada some
deixando o mundo
como um grande circo
na praça da estação.
(do livro “Trem da memória – um poema”)
quarta-feira, 26 de março de 2008
segunda-feira, 17 de março de 2008
domingo, 17 de fevereiro de 2008
dados pessoais

de idade e fome.
Vinte e tantos e espantosos anos
que a vida pesa em mim.
Do lado esquerdo
o coração incomoda
quando inquilino
quando solitário
e se eu pudesse arrancá-lo
não o faria.
Sou o encontro de duas vogais
entre o menino que se foi
e aquele senhor que se aproxima.
O presente
é esse grito na janela
esse silêncio no quarto
à guisa de forças
para carregar esses anos e esses quilos.
(do livro “Roteiro dos pássaros remixado")
domingo, 13 de janeiro de 2008
anônimo

Escondo meus delitos
e deixo a condenação para a volta.
Estou muito apressado.
Eu nunca deixo atalho
para me descobrirem:
prefiro o próximo encontro
com o que encontrar próximo aos meus olhos.
Eu nunca deixo traços dos meus planos.
Deixo o resultado de tantos enganos
como pudesse ser também seu
aquilo que foi somente meu.
Não passo procuração para sentimentos
enquanto viajo para lugar desconhecido.
Este poema pode me custar a vida.
Podem me custar os amigos.
E me gostarem os inimigos.
Mas não deixarei rascunho dos meus reversos.
(do livro “Poesia provisória”)
domingo, 6 de janeiro de 2008
linha
Essa linha que nos separa
no meio da sala
é a mesma que estranhamente
nos enlaça
e assim como nos ameaça
nos joga no mesmo abraço.
Se você parte por um século
ou por segundos me ausento,
fica sempre do outro um pedaço
na viagem solitária
de quem se perdeu
e segue em desalento.
(do livro “Poesia provisória”)
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
metade

O que se vê em mim
não é o todo:
escondo gestos.
O que se sabe de mim
(ainda) não é tudo:
escondo datas
Metade que nem eu mesmo sei
mais corrói do que vive e cresce:
e silenciosamente é uma doença
(e não me esquece).
Convivo como caça e caçador
dentro de mim:
uma hora me acho
a outra não me aceita
e sou metade do rosto desenhada
a outra metade desfeita.
(do livro "Poesia provisória")
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
desmontando as tardes

As estacas não criam raízes no chão da cidade.
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
postura

Cada gesto posto no espaço
me subtrai (um pouco) a intimidade.
Mas não há como negar
o tamanho do rosto
e esconder-se da luz diante do espelho.
Tenho (sem saída)
a vida presa aos pulsos
o corpo atracado ao tempo
levando-me neste soluço constante
nesta postura indecente
nesta vontade (sempre!)
de ser feliz.
A idade é pouca
sobre a carne que preciso ter
para descobrir o que esconde
o silêncio de amanhã
e me deixa com as mãos
curiosas
os sentimentos
acesos
o coração
(in) quieto.
Por isso
no estrondo dos dias nas ruas
na solidão das cercas na noite
mantenho o olho aberto
pastorando (e me resgatando a)
cada instante
em que a vida não cochila.
(do livro “Poesia provisória”)
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
sábado, 27 de outubro de 2007
unidade

tem sua porção de vida
tem sua imensidão de luz
tem sua solidão de gente
cada dia
cabe em si mesmo
como cabem na terra
a colheita e a semente.
Cada dia
tem seu ontem e amanhã
tem seu silêncio de espera
tem sua largura de saudade
cada dia
cabe em si mesmo
como cabem no continente
a distância e a cidade.
Cada dia
tem seu mar e os peixes
tem seus barcos e as viagens
tem seus remos e mãos fortes
cada dia
cabe em si mesmo
como cabem no porto
o rumo do sul e do norte
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
o morto

O morto
tomou destino ignorado:
em que planície nos céus
sibila o seu silêncio?
Com sua armadura desfeita
o que resta é inútil:
não suporta o vento
(que sopra com a chuva)
não será restaurado nos museus
(que espiam a história)
nem se moverá com as lembranças
(que amontoam os retratos).
O morto
tomou destino ignorado.
II
Não tenham medo:
o morto não se levantará
de sua solene posição
deitado como nunca
com seu nariz e seu sapato
em
riste.
III
O morto
(saibam)
não segue no cortejo:
segue um morto
(peso inútil)
que o limite do nosso olho vê.
IV
O morto independe da vontade
dos que lhe jogam areia e flores
dos que lhe dizem orações e calam
dos que choram e esquecem
- o morto
agora
é eterno.
V
Lembramos o tamanho do morto
com suas roupas
com sua voz
com sua dor
e choramos o tamanho que falta
a lágrima que salta
em nós
até quando aprendermos
a não ser somente vivos.
VI
De nada mais sabemos
até que o morto nos mande notícias
e que seu vulto passe ao longe
como passam os viajantes
(depois)
do entardecer.
VII
Maior é o morto
na viagem
que ele continua
(em que planície nos céus?).
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
impregnados

Ele fechou a porta e saiu. Precisava ir embora. Não era o que ele queria: era o que precisava. Não lhe era fácil ouvir o que ouviu e ter de ir embora. Fechou a porta e saiu. Agora as palavras ficaram atrás da porta, lá dentro do quarto. E dentro dele também continuariam. “Não vou tomar banho”, disse ela. Ele ouviu e não entendeu. Ela, com o rosto virado e apoiado nas duas mãos juntas, repetiu baixinho “não vou tomar banho”, como se agora fosse somente para si. Mas ele ouviu as palavras sussurradas no dorso das mãos, ali do outro lado, ela de costas para ele, ele que fixava o olhar no teto. Desprendeu-se, virou o rosto e olhou para ela. O cabelo cobria-lhe a nuca. O olhar dele tentou desembaraçá-los e atravessar até o outro lado, ver o seu rosto, ouvir de novo o que ela falara. “Nunca mais vou tomar banho, nunca mais”, continuou ela. Esboçou um gesto de afago em seus cabelos, não para que ela virasse o rosto, o que poderia ter sido ótimo, e esta história seria diferente, mas ele não fez da intenção um gesto sequer. Voltou o rosto para o teto. “Quero ficar com seu cheiro em meu corpo”, disse ela mais uma vez, alongando-se nas palavras, e foi no momento em que ele fechou os olhos para não ficar mais uma vez fixo naquele branco do teto, naquela lâmpada apagada, naquela luz do dia que começava. Fechou os olhos e as palavras dela entraram mais fortemente em seus ouvidos. “Para sempre... quero ficar com seu cheiro pra sempre”, era quase um murmúrio, mas ele ouviu nitidamente cada palavra, ali do outro lado, com o rosto nas mãos juntas, as mãos por cima do travesseiro fino. Ele não conseguia abrir os olhos. As palavras ressoavam em sua cabeça, se estendiam lentamente lá por dentro e sumiam quando novamente as palavras voltavam, “seu cheiro em mim... pra sempre”. Abriu os olhos, decidira, precisava ir embora: não queria: precisava. Levantou-se e o ruído da cama encobriu uma talvez repetida fala. Ele vestiu-se enquanto olhava para ela, ali deitada, confundida entre os panos, a brancura dos lençóis, a extensão da cama que parecia maior agora. Não podia ficar olhando-a, ou ficaria ali. Não queria ir embora: precisava. Virou-se e foi em direção à porta. Abriu lentamente, como se ela estivesse dormindo e não quisesse acordá-la. Fechou a porta e saiu. Precisava ir embora. Não era o que ele queria: era o que precisava. Não lhe era fácil ouvir o que ouviu e ter de embora. Fechou a porta e saiu. Agora as palavras ficaram atrás da porta, lá dentro do quarto. E dentro dele também continuariam.
sábado, 15 de setembro de 2007
domingo, 26 de agosto de 2007
esconde-esconde

segunda-feira, 23 de julho de 2007
migrante
em que acreditar
além da cidade onde queremos morar
e em sua direção
afivelamos nossas malas
(com roupas e retratos)
enchemos nosso peito
(de esperança e saudade)
abrimos nossos olhos
(de horizonte e espanto)?
em que acreditar
nessa (qualquer) cidade
construída de concreto e traços
além da argamassa dos nossos sonhos?
mas se na cidade
cabe a pedra
cortada em mil pedaços sobre a solidão
caberá (muito mais)
a nossa vontade
solta em muitos corações e braços
povoando a paisagem e a distância.
sábado, 7 de julho de 2007
per si
na minha poesia.
Não se meta onde é chamado.
Faça de conta
que não escuta os meus apelos
e me deixe encontrar
esse endereço errado.
Quero meu desencanto legítimo
e esse beijo desfazendo a azia.
Não me venha com tradução simultânea
para música que me castiga.
Não me meta onde sou cantado.
Faça de conta
que não entende esse estrangeiro
e me deixe desencontrar
esse futuro passado.
Quero o ronco do meu íntimo
e este coração que a alma mastiga.
(do livro “Poesia provisória”)
quarta-feira, 27 de junho de 2007
ventania
sexta-feira, 22 de junho de 2007
Luar
Ando.
Uma réstia toca a minha pele.
Esqueceram a lua acesa.
(do livro “Raios”)
quarta-feira, 13 de junho de 2007
terça-feira, 12 de junho de 2007
namorada
quarta-feira, 30 de maio de 2007
sábado, 19 de maio de 2007
quimera
sexta-feira, 11 de maio de 2007
profano
às vestes e às paixões
se eu não calo o canto
se eu não sigo as setas
se eu não cesso os beijos
isso
quando mais ardem
fora e dentro de mim
as vestes e as paixões.
(do livro “Roteiro dos pássaros – remixado”)
quinta-feira, 10 de maio de 2007
sobre viver
se sentarmos
à mesma mesa
e trocarmos olhares
como amigos
ou como sobreviventes.
(do livro “A paisagem e a distância”)
quarta-feira, 2 de maio de 2007
o morto
O morto
tomou destino ignorado:
em que planície nos céus
sibila o seu silêncio?
Com sua armadura desfeita
o que resta é inútil:
não suporta o vento
(que sopra com a chuva)
não será restaurado nos museus
(que espiam a história)
nem se moverá com as lembranças
(que amontoam os retratos).
O morto
tomou destino ignorado.
II
Não tenham medo:
o morto não se levantará
de sua solene posição
deitado como nunca
com seu nariz e seu sapato
em
riste.
III
O morto
(saibam)
não segue no cortejo:
segue um morto
(peso inútil)
que o limite do nosso olho vê.
IV
O morto independe da vontade
dos que lhe jogam areia e flores
dos que lhe dizem orações e calam
dos que choram e esquecem
- o morto
agora
é eterno.
V
Lembramos o tamanho do morto
com suas roupas
com sua voz
com sua dor
e choramos o tamanho que falta
a lágrima que salta
em nós
até quando aprendermos
a não ser somente vivos.
(do livro “Poesia provisória”)