Meu corpo é a única coisa que
tenho
que é nada
e como suicida
luto contra moinhos, tempestades
e solidão
que é tudo.
Escondo-me nesta armadura de
ossos, carne
e vestimentas
e espio a vastidão do mundo pelos
buracos dos olhos
como quem espia lugares estranhos
infinitos
perigosos.
Meu corpo é a única coisa que
tenho
para carregar o pretexto da alma.
É magro, feio e escandaloso
o corpo
mas é única coisa que tenho
para caminhar pelo tempo e pelos
sertões.
Garantia não tenho
se o meu corpo é forte e frágil
ao mesmo instante
se me sujeito ao abismo
ao chão
à poeira
se estou marcado para me tornar
saudade
lembrança
e fotografias
e minha história não terá mais
um cavalo para montar
e serei uma estátua invisível no
espaço.
Garantia não tenho de nada
nada
não levarei escondido no bolso
nenhuma semente
nenhum suspiro
nenhum gesto
pois tudo é podre
condenável
consumível.
Só é garantido o mais difícil:
a miragem na
imensidão
o que se supõe ao
longe
o completo mistério
para se chegar até lá
não se sabe com que corpo
não se sabe com que asas
não se sabe.
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