Trem da memória, de Nirton Venancio (Editora Radiadora 2022), sinto-o como escrita pulsátil. Cheio de vida, cada palavra pulsando em cada verso projeta um caminho (imperfeito, porquanto memória) que é, a um só tempo, procura e encontro, escavação, via passado, e edificação, por ele, para o agora que pode ser hoje no momento do depois. O "trem" proposto no título é de uma felicidade tão grande, enquanto expressividade de ideia, que, ao lê-lo, somos levados a saber estarmos diante de uma escrita que se teceu como movimento e que, por isso, nos faz trafegar por trilhos, ligando tempos de ontem aos tempos de agora. Via memória.
A cada verso de cada página, nós, leitores, nos deparamos com um “cascaviar” poético intenso e desafiador. Nesse processo, o eu lírico declara, já próximo do final da escrita feita:
O que escrevo são incompletudes:
há sempre quem lembro
e volto a sua casa
peço água e pergunto se sabe de mim
- o neto da costureira, o filho do bodegueiro.
Há sempre quem deslembro
e bate a minha porta
nada pede e pergunta se conhece quem foi
- o pai de lourim, o avô de fransquim.
Incertezas. Sim, o lidar com a memória causa o encontro com questões nem sempre possíveis de serem respondidas.
- Trecho do artigo Poesia que se eterniza, de Chico Araujo, poeta, professor do Centro Universitário Christus, publicado no jornal O Povo, Fortaleza, 23/6/2023
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O livro concorre ao 65º Prêmio Jabuti, Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa e IX Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa, Faro, Portugal.
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