Meu corpo é a única coisa que tenho
que é nada
e como suicida
luto contra moinhos, tempestades e solidão
que é tudo.
Escondo-me nesta armadura de ossos, carne
e vestimentas
e espio a vastidão do mundo pelos buracos dos olhos
como quem espia lugares estranhos
infinitos
perigosos.
Meu corpo é a única coisa que tenho
para carregar o pretexto da alma.
É magro, feio e escandaloso
o corpo
mas é única coisa que tenho
para caminhar pelo tempo e pelos sertões.
Garantia não tenho
se o meu corpo é forte e frágil ao mesmo instante
se sujeito-me ao abismo
ao chão
à poeira
se estou marcado para me tornar saudade
lembrança
e fotografias
e me história não terá mais
um cavalo para montar
e serei uma estátua invisível no espaço.
Garantia não tenho de nada
nada
não levarei escondido no bolso
nenhuma semente
nenhum suspiro
nenhum gesto
pois tudo é podre
condenável
consumível.
Só é garantido o mais difícil:
a miragem na imensidão
o que se supõe ao longe
o completo mistério
para se chegar até lá
não se sabe com que corpo
não se sabe com que asas
não se sabe.
(do livro “Poesia provisória”)
que é nada
e como suicida
luto contra moinhos, tempestades e solidão
que é tudo.
Escondo-me nesta armadura de ossos, carne
e vestimentas
e espio a vastidão do mundo pelos buracos dos olhos
como quem espia lugares estranhos
infinitos
perigosos.
Meu corpo é a única coisa que tenho
para carregar o pretexto da alma.
É magro, feio e escandaloso
o corpo
mas é única coisa que tenho
para caminhar pelo tempo e pelos sertões.
Garantia não tenho
se o meu corpo é forte e frágil ao mesmo instante
se sujeito-me ao abismo
ao chão
à poeira
se estou marcado para me tornar saudade
lembrança
e fotografias
e me história não terá mais
um cavalo para montar
e serei uma estátua invisível no espaço.
Garantia não tenho de nada
nada
não levarei escondido no bolso
nenhuma semente
nenhum suspiro
nenhum gesto
pois tudo é podre
condenável
consumível.
Só é garantido o mais difícil:
a miragem na imensidão
o que se supõe ao longe
o completo mistério
para se chegar até lá
não se sabe com que corpo
não se sabe com que asas
não se sabe.
(do livro “Poesia provisória”)
6 comentários:
ME FEZ LEMBRAR ARNALDO ANTUNES QDO DIZ:
"O CORPO TEM ALGUÉM COMO RECHEIO"
um beijo Nirton
Encontrei seu blog. Grata surpresa! Seu poema que fala de corpo deu-me um susto, pela temática...Explico. Escrevi, há algum tempo, versos reclamando do "corpo"...E lendo vc aqui, vejo a infinita distância entre a beleza artística de seu estilo e a do meu, tão pobre e tão previsivelmente comum...
Ainda o postarei.E o farei, mesmo envergonhada, como homenagem a você.
Voltarei breve.
Abraço grande.
Dora
Esse talvez tenha sido um dos poemas mais belos e tragicos, que já li nos últimos anos. Começando pelo título, "Armadura", o poema reveste-se de uma constatação demasiadamente humana: Meu corpo é a única coisa que tenho! O final é uma pá de realidade:não se sabe com que corpo
não se sabe com que asas.
Sem garantias, sem nada. Uma obra de arte!
hábraços
claudio
se é obra de arte, eu não sei, mas que é belo e trágico eu sinto.
Nirton: muita sensibilidade e talento.
Bom feriado e abraços carinhosos.
Quase 5 anos depois do post original (mais 3 dias), descobri o seu poema.
Gostei da "armadura" original ;-)
/LB
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