sábado, 20 de maio de 2023

o poema não acaba nunca

fortaleza seria logo ali

depois da bica do ipu
passando o arco de sobral
chegando nas bananeiras de caucaia
fortaleza seria logo além
da saudade do quintal de ibiapaba
da lembrança da cancela da fazenda
da memória da casa de oitão
fortaleza seria logo aquém
do meu pai que esperava
de minha mãe que guardava
do irmão que me olhava
(...)

O trem chegou à estação João Felipe
e continua nos trilhos de minha vida.
Na capital
as bancas com suas notícias
a Cruzeiro com a miss na capa
os cowboys destemidos da EBAL.
Puxo os vagões da memória até quando?
O poema não acaba nunca.
O que escrevo são incompletudes.


- Trechos de Trem da memória, Editora Radiadora, 2022
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado
O livro concorre ao Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa 2023 e ao IX Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa, Faro, Portugal.
À venda com o autor e pelo site www.radiadora.com.br
Vídeo: Oitoemeio Filmes
Música, fragmento: Rain, in your black eyes, Ezio Bosso, 2016 

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