luz da lanterna mágica por trás de todos
mostrando na parede de cal
o mundo colorido em preto e branco
a
cachoeira
que
humberto
mauro
me
banhou
quando
cresci
:
24 quadrinhos por segundo
movimentavam em minhas retinas
loone ranger
e eu cavaleiro solitário
igualmente tonto
tim holt
meu primeiro caubói
do tempo das diligências
tarzan
que eu não sabia pronunciar
nem nadar como ‘jonivesmule’
carlitos
eu garoto em sua ribalta
órfão em minha estrada.
Eles se recolhiam na escuridão da cabine
quando as luzes acendiam e o vento apagava
O olhar oblíquo do menino imaginava-os
quietos
cansados
sagrados
nos rolos dentro das latas dentro de mim:
35mm de extensão em meu coração.
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Trem da memória, de Nirton Venancio (Editora Radiadora, 2022), é uma poética transida de lembranças, como num caleidoscópio, ou melhor, num cinematógrafo, ou lanterna mágica, emendando na coladeira do tempo imagens esparsas que vão costurando uma narrativa testemunhada pelo poeta.
Ele opta pela simplicidade – a mesma encontrada nos pequenos vilarejos do Brasil - que nos remete aos poemas inaugurais dos primeiros dos nossos modernistas. Sem os artifícios gongóricos da Geração de 45, que reabriu as portas do Parnaso para suas Medusas e Apolos invadirem novamente a nossa literatura.
Esse trem poético de Nirton Venancio não para em nenhuma estação. Vai recolhendo da poesia brasileira e do cinema as referências que o seu inconsciente erudito e sensível sopra no seu ouvido. E retira de seu baú as joias de sua coroa particular e as expõe e vai declinando sua história – como um filme, uma autobiografia em forma de relato.
- Luiz Carlos Lacerda, cineasta e poeta (Rio de Janeiro)
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O livro concorre ao 65º Prêmio Jabuti, Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa 2023 e ao IX Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa, Faro, Portugal.
À venda com o autor e pelo site www.radiadora.com.br