tem lua cheia no meu coração:
clara clareia meu peito
derrama demais sua prata
em meu chão.
(do livro “Poesia provisória")
(Os poemas aqui publicados estão registrados na Biblioteca Nacional. Podem ser reproduzidos desde que mencionados a fonte e o autor)
só escaparemos se conversarmos
se sentarmos à mesma mesa
e trocarmos olhares
como amigos
ou sobreviventes.
(do livro “A distância e a paisagem – Brasília e outras viagens”)
I
em que acreditar
além da cidade onde queremos morar
e em sua direção
afivelamos nossas malas
(com roupas e retratos)
enchemos nosso peito
(de esperança e saudade)
abrimos nossos olhos
(de horizonte e espanto)?
em que acreditar
nessa (qualquer) cidade
construída de concreto e traços
além da argamassa dos nossos sonhos?
mas se na cidade
cabe a pedra
cortada em mil pedaços sobre a solidão
caberá (muito mais)
a nossa vontade
solta em muitos corações e braços
povoando a paisagem e a distância.
II
o que faz uma cidade crescer
sob o sol
sobre o peito
dentro do homem?
o que faz um homem crescer
sob o sol
com dor no peito
dentro da cidade?
III
o que é uma cidade
na história de
um homem?
não se sabe ao certo
como não se explica
por que esse homem respira
e o que alimenta
tantos desejos
a cidade
(no final das contas
e das ruas)
é mistura confusa
de susto e alívio
que abraça e larga
nossa carne
como quem ama e desaparece
apesar dos desenhos
que orientam o presente
a cidade
é o mistério
sobre a cabeça desses animais
que caminham sobre passos
novos a cada desejo
grandes a cada abraço
profundos a cada vontade.
(do livro “A paisagem e a distância – Brasília e outras viagens")
Agora que chorei todas as dores
desse e de outros amores
que rimei nosso caso com circo de horrores
e fiquei olhando sobre o mar
um tempo que se foi...
agora que alguns amigos viajaram
e alguns outros que ficaram, saíram...
agora quando me deparo com o espelho no corredor
pergunto sem esperar resposta:
quando continuo senão agora
que tenho o saldo de algumas horas
e restam algumas roupas no armário
e novos mapas traço no vão da sala?
Quando senão agora
quando me resta o descompasso desse tango solitário
estrada afora?
(do livro “Poesia provisória”)