domingo, 13 de novembro de 2005

migrante

foto Lars Ihring

I

em que acreditar
além da cidade onde queremos morar
e em sua direção
afivelamos nossas malas
(com roupas e retratos)
enchemos nosso peito
(de esperança e saudade)
abrimos nossos olhos
(de horizonte e espanto)?

em que acreditar
nessa (qualquer) cidade
construída de concreto e traços
além da argamassa dos nossos sonhos?

mas se na cidade
cabe a pedra
cortada em mil pedaços sobre a solidão
caberá (muito mais)
a nossa vontade
solta em muitos corações e braços
povoando a paisagem e a distância.


II

o que faz uma cidade crescer
sob o sol
sobre o peito
dentro do homem?

o que faz um homem crescer
sob o sol
com dor no peito
dentro da cidade?



III

o que é uma cidade
na história de
um homem?
não se sabe ao certo
como não se explica
por que esse homem respira
e o que alimenta
tantos desejos

a cidade
(no final das contas
e das ruas)
é mistura confusa
de susto e alívio
que abraça e larga
nossa carne
como quem ama e desaparece

apesar dos desenhos
que orientam o presente
a cidade
é o mistério
sobre a cabeça desses animais
que caminham sobre passos
novos a cada desejo
grandes a cada abraço
profundos a cada vontade.

(do livro “A paisagem e a distância – Brasília e outras viagens")

2 comentários:

Claudio Eugenio Luz disse...

(...)e em sua direção
afivelamos nossas malas.(...)Palavras fortes, meu caro. E, caras!Um belissimo poema onde o destino de cada um está dado nestas viagens in-visiveis. O que em cada uma se impõe pra quem pela primeira chega é a sensação da paisagem e suas estranhezas, forças mediadoras de qualquer trasnformação.

,,
hábraços.
claudio

Claudio Eugenio Luz disse...

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